
Afinal, a combinação das propostas visuais com músicas entoadas por diversos personagens como, por exemplo, Hebe Camargo e Jorge Bem Jor, continuaram mantendo viva a ideia da “Varig, varig, varig… Cruzeiro, cruzeiro”. Mais do que as brincadeiras em comerciais como “550km, 550km. Anda um pouquinho, para um pouquinho. 550km”, talvez o melhor exemplo dessa relação da marca com o público seja a bela canção de festas que se tornou referência da empresa: “Estrela brasileira no céu azul, iluminando de norte a sul. Mensagem de amor e paz, nasceu Jesus, chegou natal. Papai Noel voando a jato pelo céu, trazendo um Natal de felicidade e um ano novo cheio de prosperidade”. Criado em 1963 pelo paulistano Caetano Zamma, um dos integrantes do grupo paulista de Bossa Nova, este jingle de natal da Varig foi gravada originalmente pela cantora Clélia Simone, que fez sucesso na TV Tupi, e modificada, durante os anos. Contudo, continua memorável.
“Minha mãe diz que quando eu era criança brincava na hora dos desenhos e parava pra olhar a TV quando começavam os comerciais. Sempre fui bastante impactado pela propaganda de forma auditiva. Minha memória afetiva é muito relacionada às trilhas dos filmes. Lembro de letras inteiras das trilhas de filmes como “”Varig, Varig, Varig”, Cola Cola é isso aí” (e quase todos da Coca-Cola), “Classifone” (O Globo), Malt 90, Kamel e, mais recentemente, “Devassa Paris Hilton”, “Pôneis Malditos” (Nissan), dentre muitas outras”, comenta o publicitário e diretor da Agência Azul, Tito Santos (RJ).
Chiclete ou não, ações como essas ajudaram a popularizar a Paper Mate (criada no início dos anos 40) que se tornou uma das marcas de esferográficas mais conhecidas. Com o tempo, o trabalho se preocupou em massificar a ideia da tecnologia agregada ao design moderno para facilitar e tornar mais simples e agradável o ato de escrever a qualquer hora. Com mais de cinquenta anos, a Paper Mate é uma das marcas mais queridas não só no mundo como no Brasil, e sinônimo de design, alta performance e inovação em instrumentos voltados à escrita.
Infância perdida – Com o comercial “Baleiro”, a Nestlé promoveu, em 1978, aquela que ficou conhecida como uma das mais tradicionais guloseimas do mercado, as balas de leite Kids, marca que hoje pertence à Arcor. O jingle da campanha embalou a infância de muitos há 30 anos no hit composto por Renato Teixeira, Sérgio Campanelli e Sérgio Mineiro, que se manteve ativo na mídia até 1985. A música se afinava perfeitamente com o vt de 30” produzido pela MCR e veiculado na televisão, além de emissoras de rádio. O comercial mostrava um menino com os olhos vidrados em um baleiro cheio de guloseimas, que ficava girando até parar para a sua felicidade e de toda criançada, ansiosa, ao seu redor.
Este sucesso gravado pelo próprio Renato Teixeira foi um dos muitos que projetaram a sua carreira, que também foi bastante expressiva na MPB. Além de compositor de clássicos como “Romaria” (memorável na voz de Elis Regina) e “Frete” (tema de abertura do seriado global “Carga Pesada”), criou trilhas para diversas marcas e empresas ao longo do tempo que permaneceram igualmente inesquecíveis como a do Ortopé. “A campanha das Balas de Leite Kids era um comercial de TV muito simples, mas totalmente memorável (pelo menos para mim). No filme, um menino girava um baleiro daqueles modelos antigos (se não me engano em um fundo branco), cantando um jingle que lembro até hoje: ‘Roda, roda, roda baleiro, atenção. Quando o baleiro parar põe a mão. Pega a bala mais gostoso do planeta. Não deixe que a sorte se intrometa. Bala de Leite Kids, a melhor bala que há. Bala de Leite Kids, quando o baleiro parar’. No final, o baleiro parava e o menino enchia a mão de balas de leite Kids. Simples e direto no desejo infantil de encher a mão de balas e comer. E nunca esqueci a música. Recentemente, quando vi o filme ‘Divertidamente’, me diverti muito vendo as cenas que o cérebro manda de volta aquele jingle que você ouviu pequena e nunca esqueceu. Me identifiquei totalmente”, acredita Renata d’Ávila, vice-presidente de planejamento e estratégia da Lew’LaraTBWA (SP).
O princípio básico do discurso ponderava que, apesar de produtos desta categoria serem bons e mais baratos, o do anunciante tinha um elemento na fórmula que não deixava que estragasse as mãos das donas de casa. E sendo assim, foi algo naturalmente inusitado, porém, mágico enquanto estratégia de marketing. “Agora, se a senhora não quiser gastar essa diferença, compra um outro. Depois, a senhora dá um jeito na mão, passa um creminho”. E, afinal, como não se deixar convencer por tamanho discurso. Isso fez diferença para o “Bil. O lava-louças superconcentrado da Bombril” e para o ator Carlos Moreno, que acabou indo parar nas páginas do Guinness Book, como o garoto-propaganda de maior tempo de permanência no ar ao longo dos anos.
“Tem muita coisa apaixonante na história da publicidade. Lula Vieira, Washigton e Petit, foram os primeiros gênios que conheci. Quando penso em algo ímpar, penso nas propagandas da Bombril e toda história/personagens construídos de maneira vanguardista. Vi toda a saga e hoje, folheio o livro ‘Eterno, 1001 anúncios de Bombril” sempre que posso. Definitivamente era uma minissérie de 30’’, cada capítulo era feito para nos prender mais à TV. Vibrei como um gol em uma das voltas mais geniais que já vi, na qual Carlos Moreno diz: ‘Você também é bom, só que andou reclamando. Não vai aparecer mais na TV’. Além da memória afetiva, peças como essa criaram um entusiasta. Obrigado, propaganda, Bombril e Washington”, comenta Thiago Alves, supervisor de criação da Kindle (RJ), sobre a fórmula que fez o tímido personagem em um celebridade do dia para noite, rendeu prêmios aos filmes da DPZ e lançaram Olivetto ao estrelado no mercado.
* Matéria produzida pela jornalista Ivelise Buarque para a Revista Pronews, edição de Outubro/ 2015, número 186

