
Brasília e as cidades de São Paulo (composta por 11.253.503 habitantes, aproximadamente), Rio de Janeiro (6,5 milhões), Salvado – BA (3 mi), Brasília – DF (2,8 mi), Fortaleza – CE (2,5 mi), Belo Horizonte – MG (2,4 mi), Manaus – AM (1,8 mi), Curitiba – PR (1,7 mi), Recife – PE (1,5 mi) e Porto Alegre – RS (1,4 mi) estão ainda entre as cidades mais populosas do mundo e naturalmente figuram como as maiores e mais importantes do país. Mas, a tendência mostra que esta realidade está mudando, inclusive, numa avaliação do Fundo de Participação de Estados e Municípios (Tribunal de Contas).
Quando se excluem as capitais, 25 municípios se destacam como mais populosos e somam 17,0 milhões de habitantes, representando já 8,4% do total da nossa população. E esta maioria se concentra no interior dos estados especialmente de São Paulo, Rio de Janeiro, Minas, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Pernambuco, Bahia, Espírito Santo, Goiás e Pará. E, numa avaliação geral, acredita-se que municípios de médio porte são os que mais crescem no Brasil (entre 100 mil e 500 mil habitantes), pois apresentam maior atratividade migratória e, consequentemente, taxas geográfica de crescimento da população.
Para esta professora e consultora, entre aquelas regiões que irão prosperar cada vez mais estão as que lidam com produção agrícola, pois o consumo de alimentos cresce em relação direta ao crescimento populacional e da renda. Haverá, da mesma forma, um incremento no setor de transportes e energia, para acompanhar esta crescente demanda. “Regiões em desenvolvimento terão um maior nível de crescimento em relação ao nível de consumo, sendo as regiões com maior contingente de pessoas inseridas na Classe C. O aumento do poder de compra da Classe C é um fenômeno determinante para o desenvolvimento do nível de consumo de uma região”, enfatiza Oliveira.
A observação dessa mudança populacional reflete a tendência da interiorização, já observada por algumas empresas. Afinal, o desenvolvimento está atrelado em muito a oportunidades disponíveis, que criam assim novas fronteiras de crescimento econômico Brasil afora. “Temos muitas atividades pelo país afora. Em Rondonópolis (MT), por exemplo, existe um enorme poder no agronegócio que permite o desenvolvimento de empresas que atuam em diversos segmentos, desde concessionárias de tratores até fertilizantes. Em Goiás, redes de varejo entre 40 e 120 lojas são fortes no interior do estado. Já no Recife (PE), no Porto de Suape, são esperados R$ 20 bilhões de investimentos e empresas de logística podem conquistar seu espaço. O Piauí, por sua vez, explora muito bem a energia eólica e tem um incrível ciclo agrário por conta de Mapitoba (nova região do agronegócio integrada por Maranhão, Piauí, Tocantins e Bahia). Tudo isso é fonte para investimentos e crescimento”, destaca Rodrigo Bertozzi, CEO da B2L Investimentos (PR).
Na opinião do executivo, há um aumento significativo de negócios fora dos grandes polos econômicos com destaque maior para as pequenas e médias empresas, que têm se desenvolvido mais do que as grandes companhias nos últimos anos. São elas o motor de nossa economia e a fonte de progresso que chega cada vez mais a todo interior do país, em diversos setpres que vão de infraestrutura, energia, saneamento, agronegócio, logística e construção de pontes, viadutos, rodovias e ferrovias, por exemplo. “Temos necessidade de praticamente tudo que nos permita ser mais produtivos. O alvo principal é a redução do custo Brasil. E os negócios para as pequenas e médias empresas estão exatamente na estratégia de atuar na terceirização destes projetos. Os consórcios ganham as licitações e criam centenas de oportunidades para esse tipo de organização”, avalia Rodrigo Bertozzi.
Estudo recente do The Boston Consulting Group (BCG) mostra que famílias de classe média e afluente de cidades do interior do Brasil (com até 500 mil habitantes) formarão um mercado de mais de US$ 600 bilhões em 2020 e representarão mais da metade do crescimento de consumo. E até os próximos seis anos, eles poderão representar 50% dos quatro milhões de núcleos familiares na faixa A e B. Realizado com mais de 3.600 pessoas, o relatório aponta que esse público detém uma renda 20% superior ao das grandes metrópoles. Contudo, o seu índice de consumo ainda é menor em determinados tipos de produtos em certas categorias, devido à falta de acesso aos pontos de venda. O que torna o investimento nestas áreas um golpe de mestre.
O aumento de profissionais vindos dos grandes centros urbanos é um dos fatores que vai puxar este crescimento das classes A e B em cidades do interior. Muitos desses imigrantes são profissionais que mudaram para trabalhar em empresas familiares que estão se profissionalizando ou companhias que estão abrindo filiais nessas cidades, principalmente em áreas ligadas ao agronegócio e ao varejo. E, em contrapartida, estas novas residências se adequar não só em termos de estrutura imobiliária como de opções de serviços e lazer, gerando uma nova cadeia e movimentando esses mercados locais. E um setor que anda apostando com sucesso nesta interiorização é o de franchising. “O mercado de franquias no Brasil é definitivamente promissor e com muito vigor continuará crescendo. Atualmente são inauguradas três unidades franqueadas por hora no país, totalizando quase mil novas por mês. Novas franquias são lançadas no mercado, sem parar”, comenta Marcus Rizzo, sócio da Rizzo Franchise.
Para o executivo da consultoria especializada na estruturação e expansão da rede de franquias, o volume de empresas deste setor já mostra possibilidade de cobrir as necessidades e atender as demandas deste consumidor. “Temos hoje quase três mil franqueadores que atuam em 24 diferentes setores da economia com quase 140 ramos de atividade. E elas promoveram uma revolução no varejo onde até alguns anos eram apenas os supermercados e magazines o sinônimo de varejo, agora pode-se afirmar que são elas, que já representam mais de 35% do faturamento varejista”, destaca Rizzo.
Existem mais de 200 mil franquias em operação no Brasil atualmente e a estimativa é que sejam lançadas mais de quatro mil diferentes ofertas de negócios neste sistema no mercado até 2018, com uma taxa média ano de crescimento de 8%. E, naturalmente, o Nordeste figura como a região com maior potencial neste cenário. Estudo recente da Nielsen, inclusive, apontou que a abertura de franquias no Nordeste cresce duas vezes e meia a mais do que a média do país, além da abertura de shoppings. Neste caso, analisa-se que o fator principal é o investimento cada vez maior de empreendedores abrindo o próprio negócio e oferecendo mais opções para o consumidor, gerando uma pulverização de serviços e um nível de desenvolvimento maior. E ainda mostra que a população passa a ter acesso a serviços mais sofisticados.
“O Nordeste deverá ser a mina de ouro do crescimento do País, onde atualmente cresce num ritmo acima da média nacional. Pernambuco, Bahia e Ceará deverão impulsionar a economia da Região de forma mais acelerada, pois as bases já estão sendo construídas há mais de 5 anos. O Sudeste continuará exercendo o seu papel fundamental de maior economia do País, mas este papel irá sofrer mudanças para agir como gestor dos investimentos em outras regiões como o Nordeste”, opina o publicitário Leonardo Vasconcelos, diretor de criação da MV2 (PE). Uma questão bastante importante. O relatório Nielsen e a realidade econômica mostram que o crescimento do volume dos bens de consumo cresceu 5,9% no Brasil, de janeiro a junho de 2014, contra 7% no Nordeste. Esta indústria é marcada pela sazonalidade e pelo grande estímulo na competitividade dos seus produtos com os preços (promoção, embalagem econômica ou ainda pacote promocional).
A indústria de bens de consumo de giro rápido acaba encontrando um campo fértil no Nordeste. E isto faz a economia rodar e o consumo cada vez mais aumentar. “O Nordeste é a região que mais se desenvolve no país. Essa é a conclusão do Índice Firjan de Desenvolvimento Municipal (IFDM) e que leva em conta dados de emprego, renda, educação e saúde. Para chegar aos dados, a Firjan (Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro) utiliza apenas estatísticas públicas oficiais. O levantamento aponta que, na última década, 97,8% dos municípios nordestinos apresentaram crescimento do IFDM”, enfatiza Marcelo Pimentel, professor e diretor da Faculdade Santa Helena. Segundo ele, o estudo mostra ainda que este movimento se refletiu, sobretudo, na melhoria dos indicadores de saúde e educação. “Na média nacional, 93% dos municípios registraram crescimento no indicador. Apesar disso, o estudo deixa claro que o país reduz ainda a passos lentos as desigualdades regionais”, diz.
E numa análise dos estados, Ceará e Pernambuco se destacam respectivamente no ranking nas 10ª e 11ª posições pelo bom índice de desenvolvimento. Por outro lado, os índices mostram que algumas regiões que não estagnaram mostram poucas taxas de evolução econômica. “Na contramão do Nordeste, a região Norte ‘destoou das demais regiões do país’, apontou o estudo. Segundo o IFDM, os municípios nortistas pouco se desenvolveram e se caracterizam pela ‘lenta evolução ao longo da década’. ‘É a região mais atrasada do país: 77% dos municípios ainda têm desenvolvimento regular ou baixo’”, comenta Pimentel.
Para Karla Oliveira, este crescimento do Nordeste tem a contribuição de uma das forças econômicas que mais cresce no mundo: a economia criativa, que gera números equivalentes a R$ 110 bilhões anuais em participação no Produto Interno Bruto, de acordo com a Secretaria de Economia Criativa do Ministério da Cultura. “Particularmente, a Região Nordeste vislumbra tal desenvolvimento, através da economia criativa, que defende a ideia da importância de aproveitar as oportunidades geradas pela globalização e pelas mídias digitais como forma de informar e enriquecer a criatividade das pessoas e sua contribuição para o desenvolvimento do país”, destaca ela que afirma que há vários setores relacionados nesta perspectiva de acordo com dados da Classificação Brasileira de Ocupações (CBO), do Ministério do Trabalho, entre os quais estão Arquitetura & Engenharia, Biotecnologia, Filme & Vídeo e Pesquisa & Desenvolvimento.
* Matéria sobre comportamento e tendência de consumo, produzida pela jornalista Ivelise Buarque para a Revista Pronews, edição de dezembro/ 2014, número 176

