8608872004_b131c27253_oNa história da fotografia, era bastante comum a sutil manipulação das imagens para dar um último retoque, fossem de personagem ou de paisagem para estas permanecessem a expressão máxima do real pelo olhar do observador. No começo do século XX, era costume dos fotógrafos retocarem a foto para criar o resultado desejado no produto final, como fazia o Barão Adolph de Meyer (1868 – 1946). Conhecido como Barão Meyer, foi o primeiro fotógrafo fixo da Vogue e da Vanity Fair, mas ficou conhecido por um amplo trabalho de fotografia como arte. Inclusive, entre as suas mais famosas estão uma naturezas-mortas com a luz estourada, e as do dançarino Vaslav Nijinsky, em Paris e em Nova York entre 1910 e 1916. Além disso, é conhecido como um grande manipulador de luz e sombra, com costumeiras fontes de luz em lugares inesperados, e retocagem diretamente no negativo. “O tratamento de imagem veio justamente na comunicação, a empresa de comunicação Magnum, criada por Robert Capa em 1947, já possuía um retocador de imagens, também chamado na época de laboratorista, o Pablo Inirio. Ele ficava responsável por ajustar as sombras e luzes numa fotografia, para dar um ar de dramaticidade, lembra o fotógrafo Thiago Gouveia (PE), jornalista e que também atua como editor de imagens.

Para o profissional, esta é uma cena antiga, com diversos agentes, que foram contribuindo com esta tradição com o tempo. “Mas era um processo demorado, pois a foto era várias vezes ‘queimada’ em diversas partes separadas. Por exemplo, se em uma foto o fotógrafo queria destacar mais uma luz ou escurecer mais um determinado ponto, o laboratorista tinha que anotar tudo na foto original e no processo de retoque separar parte por parte”, coloca. E em mais de cem anos da fotografia, diversos nomes deixaram sua marca de alguma forma pelo conceito, técnica e caminho percorrido, por exemplo. E assim propostas mudaram e processos foram evoluindo para proporcionar experiências de trabalho únicas que se tornaram mundialmente reconhecidas, e inusitadas em muitos casos no mercado e no cenário que conhecemos.

“As possibilidades são praticamente infinitas, no cinema temos filmes quase todos em pós-produção, como 300 de Esparta. E o retouch tem se tornado essencial, pois diferencia e dá mais personalidade a cada projeto, em um mercado onde a diferença da entrega é pequena, todo detalhe ganho vale muito”, menciona Bertone Balduíno, diretor de criação da Blackninja (PE). Ele frisa que hoje o retouch é usado para tornar a imagem única e atraente. E a aplicação deste processo não se restringe apenas à retirada de falhas na imagem, pois isso já é uma ação banal no trabalho de criação. O objetivo agora é encantar quem a vê.

Ricardo Moreira da Moreira Estúdio

As estratégias adotadas há 70 e 80 anos deram novos conceitos ao trabalho fotográfico e ainda trouxeram novos olhares e possibilidades. E nos dias de atuais, por exemplo, temos diversos recursos à mão como o uso de programas de edição de imagens e o mercado de comunicação tem se valido destas oportunidades, e com muito sucesso. “A pós-produção e o retouch são motivadas em grande parte pela competitividade entre as marcas e o mundo digital, que deixa lado a lado campanhas regionais e mundiais. Com isso a necessidade de um melhor acabamento é sempre mais natural. E assim a pós está virando algo normal e o cliente começa a entendê-la, pois o material ganha em riquezas de detalhes”, acredita Ricardo Moreira da Moreira Estúdio (PE), que tem se destacando há anos no setor, inclusive, com diversos prêmios de nível internacional como o Cannes Lions 2015 e o Dubai Lynx Festival 2014.

E, por isso, são realizados muitos esforços e investimentos neste uso no mercado de comunicação. Elas trazem liberdade para ir além e fazer com as imagens o que se deseja. E não é a toa observa-se a existência de diversas técnicas, aplicativos e métodos disponíveis. “A pós-produção de imagens avançou na medida em que os computadores se tornaram parte do dia a dia das pessoas e, mais do que nunca, das empresas de comunicação. A digitalização facilitou exponencialmente a manipulação e retoque das imagens. Isso se torna evidente quando comparado aos antigos processos de composição das mesmas, que eram totalmente mecânicos. O finado processo conhecido como Paste Up, por exemplo, implicava a montagem de uma peça gráfica com colagens, artes finais e tipografia sobre um cartão antes de ser enviado ao fotolíto. Era um processo laborioso e bem demorado”, lembra Leandro Cacioli, diretor de criação e consultor de comunicação da Prosphera Educação Corporativa (SP).

Com tudo digitalizado, o profissional responsável pelo retoque de uma imagem passou a ter tudo à mão, como filtros, equipamentos, ferramentas e diversas outras possibilidades de ações para o recorte digital, por exemplo. E assim formas e técnicas conhecidas não estão sendo usadas simplesmente para minimizar falhas ou para melhorar o resultado final ainda no processo de produção, ela envolve outras grandes vantagens e traz todas as possibilidades para o mercado. “Pode-se fazer qualquer coisa hoje em dia. Você tira pessoa, põe pessoa, muda nome, inverte, faz o que você quiser. Acrescenta ou tira o que for necessário. Então as possibilidades são todas com os programas hoje disponíveis para edição. Então, o peso do retouch em alguns projetos publicitários pode-se dizer que seja 70 e 30%. Setenta por cento para o retoque e trinta para a captação da imagem. Hoje o retoque tem um peso enorme. Eu acho que na área publicitária é possível ver o peso de 50/50%, entre produção e pós-produção, no mínimo meio a meio de responsabilidade”, determina Clicio Barroso.

Clicio Barroso

Com tudo o que temos, no que diz respeito ao trabalho de pós-produção, as reais possibilidades desta técnica traz um peso específico na finalização de qualquer projeto no setor. E agora temos um novo diferencial na execução da ideia, que precisa ainda assim de todos os esforços de cada profissional para o resultado ideal. “O fotógrafo tem que ter o máximo de dedicação na captação da imagem. Na prática, o mercado tem muito fotógrafo ruim, que se vira fazendo pós-produção boa. E diante disso, não acho que o retouch tenha todo este peso 70%, 30% na finalização de qualquer projeto. E nem acredito que este tem a ver com a era digital porque, durante todo o período hibrido, vamos dizer aí, uns cinco anos de convivência de filmes fotográficos, com photoshop, na pós-produção publicitária. O peso do retoque sempre foi igual, quer dizer, captava-se em filme, ou seja, não tem nada a ver com o digital, e a pós-produção tinha o mesmo peso que tem hoje”, enfatiza Barroso.

Para este expert com ampla formação e atuação, há um cenário que aponta duas questões específicas a serem consideradas: o mercado e a preguiça do profissional. “O mercado publicitário se acostumou, tanto no cinema ou no vídeo, quanto na parte impressa, a depender de pós-produção. Se não tiver pós-produção, os caras acham que não está bom, que não está legal. E isso é um pouco de vício. Existe a necessidade, mas também tem um pouco deste vício. O outro ponto é a preguiça do fotógrafo, que pensa numa foto que será arrumada na pós-produção. Essa preguiça eu acho bem ruim para a fotografia”, destaca. E, provavelmente, estes foram alguns dos principais fatores que fizeram com que se tornasse tão comum, na última década, o trabalho de correção feito para reparar pequenos defeitos e aperfeiçoar alguma imagem, algo que se tornou tão regular e que não é bem visto por alguns profissionais, que acreditam que esta manipulação é questionável.
* Parte de matéria de capa produzida pela jornalista Ivelise Buarque para a Revista Pronews, edição de Julho/ 2015, número 183

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Ivelise Buarque é jornalista, consultora de comunicação e idealizadora do portal Ivelise Comunica e do Perneando. Com mais de 32 anos de atuação no cenário de comunicação, marketing e negócios, ainda tem grande participação no mercado de comunicação corporativa e marketing de consumo e cultural. E nos dias de hoje atua com foco em cultura, arte, entretenimento e projetos criativos, ajudando marcas e iniciativas a se comunicarem com autenticidade, propósito e impacto.

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