
Para o Ministério, o avanço na qualidade de som e imagem que se alcança com o novo padrão de TV digital possibilita que a programação das emissoras carregue uma riqueza maior de detalhes, o que torna a experiência ao espectador mais imersiva. E, por conta disso, as maiores emissoras têm feito grandes esforços na digitalização de suas estações, inclusive operando simultaneamente nas tecnologias analógica e digital durante o período de transição. Contudo, nem tudo é um mar de rosas, segundo alguns especialistas, no que diz respeito ao processo que corre em movimento veloz. “Temos um país continental e nunca houve dúvidas de que o switch off teria adiamentos, mas o entrave existe em diversos pontos focais como concessão de canais, prefeituras que são ‘donas de canais analógicos’ e não tem dinheiro para digitalizar. Todos esses pontos devem ser discutidos e não podem ser negligenciados”, diz Tom Jones Moreira (SP) do Forum SBTVD (Fórum Brasileiro de TV Digital Terrestre). O especialista considera que esses problemas de implantação estão em um calendário que busca privilegiar as teles em detrimentos do usuários final, o telespectadores.
Em ritmo menos acelerado, pequenas e médias entidades têm solicitado canais digitais para iniciarem suas transmissões, de acordo com o Ministério das Comunicações. Pela Portaria MC n° 106, de 2 de março de 2012, somente é permitido que se utilize a multiprogramação nos canais consignados a órgãos e entidades integrantes dos poderes da União, e conforme o Decreto n° 5.820, de 29 de junho de 2006, os canais do Poder Executivo, canais de Educação, canais de Cultura e canais de Cidadania. Desta forma, considera que os esforços empreendidos pelos atores envolvidos na transição de tecnologias tem se mostrado importante para que a população possa desfrutar todos os benefícios que essa mídia pode oferecer, em seu entendimento: qualidade de som e imagem, os recursos de multiprogramação, mobilidade, interatividade, maior cobertura de internet pela telefonia móvel de quarta geração e uma utilização mais eficiente do espectro radioelétrico. E muito mais. Contudo, indo de encontro ao que se espera, algumas dessas possibilidades estão fadada para apenas alguns meios, como podemos ver. “Algumas emissoras brasileiras anseiam permitir a discussão de um novo marco regulatório para este setor no País. Para isso será necessário conhecer melhor as maneiras como a introdução da nova tecnologia digital poderá interferir e contribuir no cenário televisivo. Também é importante fazer o levantamento das formas de transição, estudos comparativos, categorização dos serviços e modelos de negócios. Além disso, analisar o impacto fiscal e na balança comercial”, acredita Camila Leoni, sócia-diretora da LB Comunica (SP).
Assim, o processo como um todo poderá atender aos objetivos de inclusão social, cultural e educativa da população, inclusive a de baixa renda, que terá por meio do Ginga acesso aos serviços públicos sem sair de casa e as aplicações de entretenimento, tornando a experiência com a televisão mais dinâmica, para o Ministério. “O Brasil é um país com uma enorme área geográfica na qual ainda tem muitos lugares com problemas de necessidades básicas para a população, tais como falta de energia elétrica e saneamento. Isso tudo implica num grande desafio, mas com grandes possibilidades e oportunidades à frente. Este avanço permite mais facilidade para o cidadão a serviços básicos de informações e favorece uma mudança de comportamento, em que o consumidor passa de uma relação passiva diante do meio televisivo para uma atitude mais participativa, integrada e interativa. Além disso, o processo interativo favorece a inclusão digital, com projetos de educação a distância e treinamentos, dentre outros”, comenta ainda a especialista.
O sistema de TV digital também trará novas possibilidades para o mercado de publicidade, de acordo com a assessoria do Gabinete do Ministério das Comunicações, que considerá que o setor na mídia televisiva se manterá mais aquecido. Analogamente, os anúncios comerciais na TV digital acabam por carregar uma quantidade maior de informação sobre o anunciante, dada a maior resolução da tela. E, consequentemente, ampliará a experiência do espectador com a interatividade através do acesso por dispositivos móveis, como celulares, tablets e aparelhos GPS. Mas, naturalmente, há outros fatores a serem levados em consideração sobre o que concerne à propaganda, o mercado e a nova forma de ver tevê. “O grande ganho dessa digitalização é do cliente, uma vez que a qualidade do sinal vai poder ser visto em todo estado em ótima qualidade. A livre concorrência no que se refere a imagem e som, que anteriormente dependia muito de investimento em antenas, equipamentos, câmeras, etc. hoje, todos esses equipamentos estão mais acessíveis e esse avanço, proporcionalmente, vai incrementar o investimento em mídia no estado e no Brasil”, comenta Cleo Nicéas.
O cenário do setor mudará consideravelmente no que diz respeito as ações de comunicação das empresas, uma vez que as campanhas de marketing tradicional tinham determinadas restrições que o sistema digital não tem. Um exemplo disso é que a ações de marketing digital podem ser medidas durante o andamento da campanha, coisa que é muito mais complicada no processo que conhecemos hoje. E isso está além do que se conhece até o momento em relação a presença da internet no cotidiano da mídia televisiva, como o consumo de programas on demand, votações por meios interativos e outras ações que ainda mantém um comportamento passivo do telespectador. Uma questão que pretendemos abordar em outra matéria em sequência sobre o assunto.
* Parte de Matéria de Capa produzida pela jornalista Ivelise Buarque para a Revista Pronews, edição de Abril/ 2016, número 192

