
Entre diversas atribuições profissionais, este jovem precursor de ideias, inovação e empreendedorismo social é professor em cursos de pós-graduação de diversas universidades como a Miami Ad School e a ESPM (Escola Superior de Propaganda e Marketing), na qual também atua ainda como curador da rede Inovadores ESPM, assim como das Sou Empresário (ambiente de encontro para troca de conhecimento e interação entre empresários de diversas áreas e setores) e Arca de Gentileza (projeto que existe para mostrar como é possível mudar o mundo com pequenas ações e incentivar pessoas a propagar essa ideia).
Para o especialista, a sociedade imediatista de hoje tem seu lado bom e ruim. Se por um lado, “vivemos em um veículo inteligente, criativo, que carrega a todos para um lugar onde as ruas não têm nomes” (a locomotiva digital como o chama). Por outro, a questão negativa desta nossa nova realidade é que pessoas de todas as idades, empresas de todos os tamanhos e instituições seculares se sentem completamente perdidas em meio a uma nova ordem mundial. “Estamos imersos em um oceano de dados e conhecimentos, de novos aparelhos e novidades tecnológicas que nunca estiveram tão disponíveis. A todo o momento, surgem tecnologias revolucionárias, robôs, celulares, TVs com nomes complexos, engenhocas esquisitas, sites e sistemas que fazem tudo mudar radical e repentinamente. Todos estão conectados a todos o tempo todo, e isso nos deixa, ao mesmo tempo, extasiados e angustiados. O excesso de informação nos deixa inquietos e agitados. Que vertigem sentimos quando acordamos de manhã e percebemos que, a cada minuto, estamos mais atrasados”, destaca ele.
Este webativista e difusor de conceitos e atividades ligadas à sociedade em rede começou sua carreira aos 14 anos como office boy, época em que aproveitava todo o dinheiro para aumentar sua coleção de selos (filatelia), hobby que mantém até hoje, juntamente com o de moedas (numismática). Mas, ele ainda assume outros prazeres como o gosto por bonsais, viajar para lugares diferentes (como Tailandia, China, Marrocos e Botswana) e ensinar como voluntário. Foi profundamente influenciado pela família e pelos acontecimentos que lhe rodearam no Centro de São Paulo, onde foi criado e curtiu uma infância à moda antiga: nadando no chafariz da Praça da Sé e jogando bola na Praça da República. Vivências que marcam sua vida e se tornaram experiências que Gil Giardelli replica em algumas de suas mais de 660 palestras no país e no exterior, como a de um amigo morador de rua, chamado estilingue. “Era um senhor muito sábio, e no dia do aniversário dele fizemos uma ‘vaquinha’ e uma festa. Ali, na Avenida São Luiz. E lembro-me da cara de espanto das pessoas, ao verem garotos comendo o bolo no chão, mas com um sorriso do bem. E naquele dia percebi que somos todos um, independente de cor, raça e credo. Que a felicidade está em compartilhar a felicidade”, comenta o especialista.
Ele propaga dois conceitos nos quais acredita e tenta praticar: “Você é o que você compartilha” e “Não use velhos mapas para descobrir novas terras”.
Para ele, vivemos entre fronteiras simbólicas onde é preciso estabelecer novos formatos de trabalho e modelos de negócios, analisando-se a realidade da geração atual e aproveitando o expertise proporcionado por antigos e grandes pensadores que, na opinião dele, contribuíram muito para a sociedade, como Socrates e pessoas ao nosso redor que nos influenciam e contribuem para grandes projetos. “Acho que sou a soma do meu pai e mãe que sempre me ensinaram ‘Seja honesto, mesmo que outros não são. Outros não serão. Ou outros não possam ser’. Porém, professores, ex-chefes e sócios sempre colaboram com um olhar diferente, uma inovação ou um novo debate”, lembra Giardelli.
E foi assim que ele assumiu novos desafios ainda na juventude como a coordenação de matinês na famosa danceteria paulistana Up & Down e, posteriormente, virou sócio em dois bares até que, aos 20 anos, mudou radicalmente sua perspectiva de vida e seus interesses (quando a formação em desenho industrial pesou). Aí, tornou-se monitor da XXIII Bienal Internacional de São Paulo e, em seguida, foi trabalhar em agências de comunicação internacional e migrou para uma peregrinação por 23 países para agregar experiências. “Todos nós temos algo a dizer e precisamos ser, cada vez mais, contadores de histórias, como José Saramago e seu avô: ‘Gente que tinha pena de ir-se da vida só porque o mundo era bonito, gente, e esse foi o meu avô Jerônimo, pastor e contador de histórias que, ao pressentir que a morte o vinha buscar, foi despedir-se das árvores do seu quintal, uma por uma, abraçando-se a elas e chorando porque sabia que não as tornaria a ver””, diz Gil, que conta sua história pela rede como um apaixonado pela tecnologia e democracia que ela proporciona.
Em palestras, Gil Giardelli fala muito de engajamento e que, de certa forma, isto não está relacionado a ser o mais curtido. Nos dias de hoje, com tanta concorrência e com todas as distrações, engajar e manter uma presença e um relacionamento forte com o publico é importante e requer conteúdo. Isto porque os usuários das redes sociais já não aguentam mais compartilhar bichinhos fofos, reclamar da segunda-feira e ver várias atualizações de status sobre o último jogo de futebol. “O consumo e a sociedade estão trilhando outros caminhos com o impacto das novas tecnologias. O mundo corporativo foi invadido por mais uma onda de bárbaros.
Independentemente se sua empresa tem dois ou 100 mil funcionários, ou seu ramo de negócio, os tiranos digitais, a voz das ruas, da imprensa e dos colaboradores diz que sua empresa deve estar na web social e colaborativa. Um manifesto publicado nos anos 2000 profetizou: saem os consumidores e entram as pessoas; vender é uma conversa a dois em uma mesa. A grande revolução é falar com milhões de pessoas e cada uma ter a sensação de ser única, sem necessidade de conversas ensurdecedoras. Young Moon, professora de Harvard, anunciou: ‘O sussurro é o novo grito no século XXI’. Isso significa que os mercados são feitos de sussurros, as pessoas estão próximas, ninguém precisa gritar. Ser transparente é obrigatório na era da co-criação”, reforça o expert que acredita que as pessoas se viciaram a compartilhar e a se deter em conteúdos “vazios”, contudo, hoje é imprescindível reduzir o peso dos tão desejados “curtir” através de uma análise dos interesses do público, traçando-se uma estratégia em cima dos dados. E o mais importante deve ser aprender a hora de se desligar. “Adoro a tecnologia e tudo o que podemos fazer com ela. Mas, agora eu quero dar a você um conselho muito sério: Desconecte-se”.
* Matéria produzida pela jornalista Ivelise Buarque para a Revista Pronews, edição de Abril/ 2013, número 156.

