Cada vez mais, comunicadores se rendem ao prazer da escrita num mercado em ebulição. Conciliar os dois lados da moeda, neste caso, é um dos grandes desafios para os todos os profissionais. Mas, para alguns a vivência profissional contribui com a paixão pela escrita e aí o que resta é superar os entraves no caminho. “As dificuldades para se editar uma obra literária, aqui em Pernambuco e, talvez, no Nordeste, são imensas. Se o jornalista não tem um certo peso no Jornalismo ou na Mídia de um modo geral, dificilmente terá a edição do seu livro garantida. Dos meus quatro livros de poesias, apenas dois foram patrocinados: um pela CEPE e o outro pelo Instituto Maximiano Campos/Edições Bagaço. Os dois outros foram frutos de apoios culturais de amigos e de entidades. E, claro, a minha condição de colunista diário da Folha de Pernambuco (Coluna Folha da Cidade), nesses 15 anos; os meus 45 anos de profissão, em agosto próximo; e a boa aceitação dos meus dois primeiros livros contribuíram para estes apoios culturais”, destaca o jornalista Robson Sampaio (PE).
O profissional começou o trabalho de escritor com poemas infanto-juvenis, na adolescência, e cujo trabalho cotidiano tem ajudado neste carreira paralela. “Por ser um jornalista de tantos anos no ‘batente’ e ainda continuar atuando, diariamente, me ajudou e ajuda para futuras publicações. Um exemplo disso, será o meu quinto livro – Teatro da Vida – a ser lançado em agosto próximo, onde conto causos escritos nesses 15 anos de Folha de Pernambuco. Estórias de pessoas famosas, povão e de colegas do “batente”. Apesar das facilidades que a integração da comunicação ao mercado editorial pode proporcionar. É preciso uma disciplina e muito planejamento, afinal, antes de tudo este não deixa de ser um negócio.
“É possível agregar uma carreira a outra, porque você nem sempre está pensando estratégias de comunicação, nem está executando trabalhos diretos para clientes. É preciso a disciplina de pegar no livro – cujo arquivo está aberto – e depois saber parar para voltar ao outro batente. Uma questão de saber organizar o tempo. Não é a coisa mais fácil, mas é possível. Inclusive nos projetos onde é possível viabilizar os serviços de edição, organização e revisão com os trabalhos de assessoria de comunicação. Alguns já estão se materializando, como a biografia de Petrúcio Amorim (cantor de forró), intitulada ‘O filho do Dono’, em que venho trabalhando”, comenta o jornalista Cristiano Jerônimo (PE), que também vem atuando como escritor desde cedo, desde a época do vestibular. “Sinto que ele está iniciando uma fase de profissionalização e começa a dar também algum tipo de retorno financeiro, lógico. Por que tem que ser um negócio, um produto cultural. O amor aumenta com a melhora da autoestima, provocada pelo reconhecimento dos produtores e autores, quando não nós mesmos o somos”.
O reconhecimento é o conforto da realização desta nova ambição, ser mais e fazer mais, E naturalmente, trazem mais alegrias e instigam cada vez mais os comunicadores, numa jornada carreira e vida multidisciplinar onde dois universos se comunicam e se complementam. E o mercado traz a oportunidade para isto. “Há uma grande produção e oferta de livros na área de Comunicação e Marketing. Além disso, as publicações em e-book ganham força e facilitam o acesso de autores ao mercado editorial. Para o leitor também é muito bom, pois o acesso à leitura está mais fácil e acessível”, diz a publicitária Izabela Dominges, sócia-diretora da Consumix Consultoria e coordenadora do curso de Publicidade e Propaganda da Aeso/ Barros Melo (PE).
Autora de dois livros um infanto-juvenil (A menina marca-texto) e outro na área em que atua (O terrorismo de marcas), ela acredita que a criatividade está no centro das duas atividades. E em um mundo com tantas transformações, esta diversificação ajuda a ampliar a visão de mundo e descobrir mais sobre diversos campos. “Buscar produzir com qualidade e ampliar sua rede de contato é fundamental. Não adianta ter contatos sem um bom produto editorial. Mas ter um bom produto editorial e não circular no meio pode dificultar seu acesso a ele como escritor”, completa.
“Escrevo porque esta é a forma mais perene de acreditar, ter esperança. Escrever livros faz-me acreditar que é possível um mundo dos negócios, que possa servir para melhorar a condição humana. Escrevo para deixar um mundo melhor para os meus filhos. Não consigo viver do que escrevo nos livros, contudo a operacionalização destas ideias, quando transformadas em curso, workshops, palestras, tem um retorno muito interessante para a equipe, isto ao mais variado nível”, ressalta o consultor de marketing português Paulo Vieira de Castro, que compartilha desta paixão com outra visão, a europeia. Na opinião dele, o ofício da escrita é uma atividade livre e sem concorrência, que possibilita a autoavaliação e um exercício de liberdade, geração de uma luz própria. “É extraordinário o gozo de escrever, aceitando o inevitável: construir o nosso próprio mercado. Este é o maior desafio para um homem do marketing. Só quando começamos a escrever é que temos, finalmente, noção daquilo que aprendemos – realmente – até aí. Editar um primeiro livro é uma questão de afirmação pessoal, a partir daí já é devoção, costumo dizer. Depois, trabalhar em algo que realmente nosso é fantástico. O reconhecimento, por parte do publico anónimo, das nossas ideias, em especial quando elas são ‘revolucionarias’ como as minhas, é a maior das recompensas”, enfatiza Castro que tem quatro livros publicados.
* Matéria produzida pela jornalista Ivelise Buarque para a Revista Pronews, edição de Maio/ 2013, número 158.
Ivelise Buarque é jornalista, consultora de comunicação e idealizadora do portal Ivelise Comunica e do Perneando. Com mais de 32 anos de atuação no cenário de comunicação, marketing e negócios, ainda tem grande participação no mercado de comunicação corporativa e marketing de consumo e cultural. E nos dias de hoje atua com foco em cultura, arte, entretenimento e projetos criativos, ajudando marcas e iniciativas a se comunicarem com autenticidade, propósito e impacto.