
O governo ajuda. Mas, se o mercado vai bem, a culpa é do consumidor. Afinal, ele é a força motriz que movimenta o setor e o conduz ao crescimento. Com a procura, gerou-se a oferta de produtos variados e, consequentemente, o aumento da competição, uma vez que a população detinha o poder de escolha. E o resulta disso foi a regularização dos preços. “O nosso país é o quarto maior mercado global em vendas de carros novos, ficando atrás apenas da China, EUA e Japão, deixando países tradicionais do ranking, como a Alemanha, ‘comendo poeira’ (dados Jato Dynamics). Certo que o Governo ajudou com a redução do Imposto sobre o Produto Industrializado (IPI), mas foi uma saída para conter uma desaceleração nas vendas e conter a crise que ainda abala o mundo. Em 2013 a expectativa é de crescimento, se vai acorrer de fato, só o futuro vai confirmar”, segundo Vinícius Melo, diretor de atendimento da Eclética Comunicação (PI).
O consumidor luta contra a crise do mercado para se render a esta nova paixão, porque a aquisição de veículos é a superação antes de tudo de uma grave deficiência no transporte público nacional. “É importante dizer que o carro é a nova ‘casa própria’. Até 10 anos atrás as pessoas de classe média, classe média baixa, sonhavam em ter uma casa própria. Mesmo as que não têm já não sonham mais com a casa própria. A casa própria da vez é o carro. Eu tenho experiência de conversar com pessoas que não tem carro, que andam de ônibus. Quando eu pergunto o que elas preferem: ter um transporte público de qualidade, ter uma bicicleta ou ter um carro, elas dizem que preferem ter um carro, mesmo que o engarrafamento esteja maior a cada dia, ou que elas fiquem presas no trânsito”, diz Fernando Lima, diretor de planejamento e novos negócios da Ampla (PE).
O fato é que o Brasil é um país que está descobrindo a cultura automotiva há pouco tempo. Uma cultura já notória, por exemplo, nos Estados Unidos, onde o carro é um bem durável típico e ativo na sociedade, e idealiza uma série de representações. “O Brasil é um país jovem, imaturo, cujo povo agora começa a perceber que pode e tem o direito de consumir. O brasileiro parece que está começando a desenvolver uma paixão por carros e motos. O carro porque representa a libertação de um sistema de transporte público caótico e insuficiente. E a moto, que nas últimas décadas foi o bem durável cujas vendas mais cresceram, porque se transformou no meio de locomoção mais barato, proliferando de forma quase incontrolável movido pela ideia do motoboy e do mototaxi”, pontua o professor de Administração da Faculdade Boa Viagem (FBV), Paulo Roberto Silva (PE).
São vários os fatores que influenciam este consumo. Entre eles está a maior representatividade material do sucesso, da tradução de sua trajetória no trabalho e na sociedade. Esta é uma realidade nos dias de hoje. Quanto mais bem sucedida, maior a necessidade de representação disto via meio de transporte e, da mesma forma, maior valor agregado no modelo do veículo que se torna esta comunicação do status social. “É uma coisa notória que o público brasileiro é apaixonado por motos e carros. Isto é um fato constatado pela mídia e pela população. E esta valorização do carro é uma realidade em todos os cantos do Brasil, porque passa a sensação de status associado, inclusive, por conta dos avanços tecnológicos do mercado. Os innovators, como são conhecido no marketing, que influenciam tendências. Acaba apontando tecnologia maior para a demanda e se tornando mais popular. Desta forma, temos as motivações psicológica, social, cultural e tecnológica tanto para carro como para a moto”, destaca Mário Guimarães, gerente de vendas e marketing da Shineray Motos.
E isto torna o perfil deste público amplo, variando daquele em busca do popular ao luxo e, desta forma, a oferta das empresas é a chave da conquista, pois a quantidade de modelos existentes torna-se um atrativo maior para todos os clientes. O que envolve um trabalho minucioso das montadoras e marcas que buscam tipos cada vez mais atrativos em design e opcionais, e também das concessionárias que tentam atraí-los com um trabalho de relacionamento com maior credibilidade e força de negociação. Para Américo Neto da ViaMidia (BA), “hoje o cliente se depara, no mínimo, com 5 ou 6 opções de veículos na mesma faixa de preço, com as mesmas características, mas com marcas diferentes. As marcas coreanas e chinesas entraram na briga e desenvolveram bons produtos. E posicioná-los bem junto ao consumidor tem sido fundamental. O mercado está mais disputado e quem mais ganhou foi o consumidor. Agora ele tem mais opções e produtos melhores, além da disputa pelo preço”.
Apesar da variação, o comprador voraz está mais focado na Classe C, que já concentra cerca de 80% da população nacional. “Com a facilidade de crédito que os oito anos do Governo Lula promoveu a classes menos favorecidas, o perfil do consumidor de veículos hoje está bastante diversificado. Tem aqueles que compram pelo valor da parcela, não se importando com o tempo de prestação. Na maioria das vezes é o primeiro carro da família e compra-se o chamado ‘carro de entrada’, o mais barato de toda linha. Tem outra grande parcela que mantém a compra sazonal, normalmente entre 30 e 48 meses, subindo de nível a cada nova compra. E uma pequena classe que escolhe o modelo, a cor, os acessórios, e paga por isso”, destaca Mariuche Ismerin, gerente de marketing e qualidade de todo o Grupo Indiana da Bahia.
* Matéria produzida pela jornalista Ivelise Buarque para a Revista Pronews, edição de Abril/ 2013, número 156.

