
“Não arriscar nada é arriscar tudo. Eu sempre tento pensar nisso quando surgem oportunidades novas e fico com medo do que pode acontecer se eu seguir em frente”, declara Luiza Trigo, cineasta, produtora, influencer e escritora carioca. A jovem de 27 anos tenta explorar todas as possibilidades que a vida pode lhe proporcionar e, apesar de uma sutil timidez, adotou uma postura multifacetada que, influenciada pelos pais, a tornou irrequieta. Característica que condiz com o perfil da geração com a qual mais dialoga. “Eu nasci quase nos anos 90, mas assim que a internet surgiu, me vi conectada. Eu cresci no boom da internet. Gosto de dizer que pude ter uma infância desconectada e uma adolescência cibernética. Eu entrava nos chats, MIRC, tive ICQ, MSN, Orkut… Sempre curti esse mundo que conecta as pessoas de diferentes partes do mundo. E acredito que isso foi o que sempre me fascinou. Eu gostava de conversar com pessoas de fora do Brasil, de fazer amizades que até então pareciam impossíveis de existir. Fiz amigos nos Estados Unidos, Coréia, Indonésia… Isso é simplesmente incrível!”, lembra. Na sua busca por novas experiências e até mesmo suprir desafios, Luiza chegou a trabalhar com sites de compras, que proporcionou acesso ao mundo online, através da terceirização de serviços de vídeos para um canal com a qual se integrou em mais um processo de descobrimento. “O trabalho com o site de compras foi por necessidade de ganhar um dinheirinho naquele momento. Mas eu nunca mexi no portal de vendas, pois o meu trabalho era fazer os vídeos sobre os produtos e pronto”, comenta. Contudo, estava lá aquela paixão pela produção audiovisual, que se mantém ainda de outras formas. A profissional, que se tornou uma das personalidades literárias mais populares do mercado, mantém um canal que é atualizado com vídeos sobre diversos assuntos, além de trabalhar com determinação em seu Blog da Luly, http://lulytrigo.com/ (dedicado de contos e crônicas à entretenimentos em geral) e colaborar com outros blogs como o da Melina Souza, Serendipity e MariMoon. “Acho que quando a gente trabalha com comunicação, principalmente com filmagens, nada fica restrito. Tudo é trabalho e tudo melhora o currículo. Quando mais produções participar, melhor”, acredita.
Filha de um autor de livros infantis que trabalhou por mais de 20 anos como diretor da TV Globo e de uma produtora que atuou com publicidade por muito tempo, o todo esse contato com a comunicação, com o mercado e com meio lhe aproximou inevitavelmente de um dos caminhos que trilhou. Foi difícil fugir desse meio. Eu já tinha pais super envolvidos. Com 15 já sabia editar no Avid, que era o programa de edição mais usado na época e com 16 eu já estava trabalhando como assistente de direção do meu primeiro DVD de música, que foi o Wagner Tiso: Um Som Imaginário”, que iniciou assim a sua trajetória com os DVDs de música na produtora que a própria mãe criou e da qual foi sócia. “Ela já vinha trabalhando na área antes de eu começar e quando me mostrei interessada, fizemos um primeiro teste, quando eu ainda tinha 16. Eu fiquei maravilhada com os detalhes que tínhamos que prestar atenção e todo o mecanismo da direção do DVD de um show ao vivo. Principalmente o do Wagner Tiso, que foi feito com a Orquestra Petrobras Sinfônica. Depois que essa parceria deu certo e ela viu que eu estava afim de trabalhar, me chamou para todos os outros feitos depois”, recorda.
Foi assim que atuou durante algum tempo com produção audiovisual para a indústria musical e, como não poderia ser diferente, o rumo para o cinema acabou sendo natural. Terminou o ensino médio, entrou para a faculdade de cinema e passou a atuar como assistente de direção até assinar roteiro e direção de sua própria produção “Delito”, que acabou sendo indicada em quatro festivais como Melhor Curta e conquistou dois prêmios, incluindo o júri popular do festival Cinesul. “Fazer Delito foi incrível. Não foi algo planejado com meses de preparação, decidi fazer de repente e em dois meses já estávamos editando o material. Eu aprendi muito produzindo e dirigindo algo tão grande (e pequeno ao mesmo tempo). Delito representou um amadurecimento na minha forma de trabalhar. Até então eu só tinha sido assistente e não tinha noção, por exemplo, das responsabilidades de um diretor. Eu me vi com uma equipe inteira dependendo de mim para fazer o set andar”, diz.
É com esta mesma determinação e ousadia Luiza tem trafegado em universos relacionados (produção audiovisual, cinema e literatura), que tem a comunicação como cerne comum. Todas essas propostas diversificadas são muitas expressivas e igualitariamente representativas para a profissional. “Para mim cinema, literatura e produção são maneiras diferentes de contar história. E é isso que eu mais gosto. Eu prefiro sempre o livro, eu acho mais eterno. Apesar de achar que o cinema chega em mais pessoas, mais rapidamente, o livro dura mais. Então, mesmo que com calma, pode atingir o mesmo número do cinema ou até mais, em gerações diferentes. Entre contar uma história literária e cinematográfica, prefiro a literária”, diz. E com isso vem se inserindo neste novo mercado que mostra cada vez mais que é uma porta com grandes possibilidades para a jovem escritora. De “Carnaval” até agora, muita coisa aconteceu, mostrando uma nova realidade para os dois mercados com os quais se relaciona efetivamente. O que traz a visão de novas portas no audiovisual e um novo movimento da literatura, diferentemente do que se acredita em um mundo pautado por digital influencers, e as redes sociais. “A mesma expansão do mundo literário está acontecendo no cinema. Finalmente o Brasil está começando a dar atenção ao segmento juvenil e isso é incrível. Eu estou trabalhando em um longa no momento e tem me dado muita alegria poder participar desse projeto. Achei que nunca fosse voltar para o audiovisual e aqui estou”, adianta animada.
E com satisfação está envolvida hoje em vários projetos que estão muito integrados ao conceito de empreendedorismo cultural, economia das ideias e produção multimídia (com transformação de livros em plataforma digital). Seja no Sudeste ou Nordeste, o momento atual está aberto à novas potencialidades para inovação na produção e criação em vários formatos e em diversas plataformas, acredita. Estamos assim sensíveis e preparados para novos modelos de atuação, tanto no que diz respeito à carreira no mercado de comunicação (como no cinema) como no literário. “Não tem mais essa de não estar preparado. O mundo está evoluindo. A cada dia é uma novidade, e se não acompanharmos, ficaremos para trás. Precisamos estar antenados, conectados e aprender junto. Se não estivermos, ficaremos!”, declara Trigo.
Dialogando com muita propriedade com a geração Y, o novo consumidor moderno, Luiza entra agora em um mercado cheio de dilemas, o literário, especialmente diante de um cenário de retração no volume de vendas. Porém, ela mantém a confiança de que alcança este público, mesmo em um momento de tantas incógnitas e mudanças. Com muito o que fazer e muitas histórias a contar, ela acredita que o jovem interfere de forma positiva nos negócios e marca presença forte hoje com o seu comportamento errático, dentro e fora da internet. Um público que, independente das distintas especulações, agrega muito e da melhor forma possível à comunicação atual e os meios considerados já tradicionais, como o da própria literatura. “O meu público adora ler e eles têm sede de mais histórias, e quanto mais eles leem, mais querem. É um ciclo vicioso e quem diz que adolescente não lê, está errado. A Bienal do Livro está aí para provar o contrário”, enfatiza ela que sai arriscando sem medo de ousar e ser feliz em várias plataformas.
* Matéria produzida pela jornalista Ivelise Buarque para a Revista Pronews, edição de Novembro/ 2016, número 197

