
Com isso, a manipulação digital, quer seja o próprio retouch, traz facilidades e necessidades para atender esta necessidade no mercado de fazer essas pequenas correções ou melhorar uma imagem através da manipulação de cores, contraste, saturação, entre outras coisas. “Hoje em dia, nenhum projeto escapa ao retouch. Não conheço material algum que seja entregue sem passar por um ‘banho’ de computação gráfica. E isso se traduz em um menor tempo de execução, em uma maior liberdade criativa e, consequentemente, num melhor resultado final. E, desta forma, para quem queira ‘brincar’ com uma imagem, há um arsenal completo de técnicas e softwares, atualmente. Mas, deve-se tomar sempre cuidado de não alterar o objetivo proposto de cada projeto. Afinal, a pós-produção não deve nunca interferir na mensagem ou conteúdo que uma imagem pretende transmitir”, enfatiza Leandro Cacioli, diretor de criação e consultor de comunicação da Prosphera Educação Corporativa (SP).
Esta é a clareza que todo e qualquer profissional deve ter em mente, e isto vai além da técnica e do preparo. Claro! Implica em diversas outras questões que podem resultar no ato falho de um planejamento de campanha e de um trabalho mau feito. Esta pode até ser a origem, em sua maioria, de tantos casos chocantes e de resultados negativos. “O mercado não aceita erros, mas como seres humanos, estamos sujeitos a ele. E quando ele vem de um editor de imagens, o mercado costuma ser cruel. Existem inúmeros casos de aplicação errada do Photoshop, pessoas com duas mãos, três olhos, sem partes do corpo, e por ai vão. Há caso de manipulações até em manifestações de rua, onde usam o programa de edição para aumentar o público presente”, destaca o jornalista e fotógrafo Thiago Gouveia (PE).
Um problema que ele lembra ser muito mais questionado em propagandas do setor de fast-food, por exemplo, cujos produtos não atendem aos anseios do consumidor. Afinal, quem não comprou gato por lebre ao pedir aquele delicioso hambúrguer que chega à mesa “sem vida” e “todo desarrumado”. “Mas a publicidade mostra aquilo que o consumidor quer ver: um hambúrguer com alface bem verde, um tomate bem maduro, uma carne suculenta e um molho consistente. A publicidade vende sonhos de consumo e precisamos apresentá-los da maneira mais perfeita possível”, destaca Gouveia.
E desta forma, em sua opinião, o mercado publicitário tem recorrido cada vez mais aos retocadores para terem um material final pronto para impressão que complete os anseios do cliente e para alcançar a meta esperada. “Muitas vezes na produção a equipe não conseguiu uma roupa no tom de cor imaginado, ou não conseguiram um resultado satisfatório com a luz ambiente, ai que entra o fator pós-produção, que nada mais é que ajustar o resultado final de uma forma que fique igual ou bem parecido com a ideia pensada, no software de edição. E assim o profissional da área vai receber a foto, e mesmo antes de ler o pedido do cliente ele já sabe o que deve ser feito”, acredita Thiago.
Por isso, a manipulação de imagem com efeitos bem sucedidos são a maioria dos casos relacionados à pós-produção, enquanto os casos chocantes são as exceções. Contudo, os trabalhos realizados com perfeição não são tão percebidos ou questionados, além daqueles cuja percepção da realidade deixa qualquer um boquiaberto, na opinião de muitos profissionais. “É possível identificarmos uma imagem manipulada, pois, tecnicamente, você pode avaliar pixels e tudo mais. Mas, eu acho que a grande sacada hoje é usar a manipulação de imagem de uma forma que não seja percebida, que gere uma dúvida se é real ou não. Esses trabalhos, pra mim, são os melhores”, comenta Ivan Loos, diretor de arte na Leo Burnett Tailor Made (SP).
Um artifício que, em sua opinião, deve ser mais usado nas fotos de mídias sociais, provavelmente, por profissionais que trabalham com essas plataformas digitais para geração de imagem moldada em beleza, por exemplo. E o que tornar tudo muito mais prático é o acesso aos aplicativos e suas vantagens, como no caso do photoshop, que é o mais difundido, além de tutoriais a um clique. “Hoje, existem cursos muito mais acessíveis (inclusive virtuais) para aprender a mexer nesses softwares. Com isso, mais pessoas tem domínio sobre a ferramenta e usam seus recursos, consequentemente”, lembra. E, sendo assim, o diretor de arte na Leo Burnett Tailor Made, acredita que é impossível que não haja algum trabalho de pós-produção por mais sutil e simples que seja atualmente. “Hoje podemos produzir, simular e criar praticamente tudo, tendo verba e prazo de execução. Claro que quanto mais orgânica for uma imagem ou material, mais trabalho para simular esse comportamento único será exigido. E se levarmos em conta os melhores produtores de imagens, animações e filmes as possibilidades são praticamente infinitas”, ressalta Loos.
* Parte de matéria de capa produzida pela jornalista Ivelise Buarque para a Revista Pronews, edição de Julho/ 2015, número 183

