
Entre grandes estrelas internacionais e nacionais, o grande sucesso da proposta do crowdfunding são os projetos de anônimos realizadores, que investiram na proposta. “Decidi colocar o projeto Ícones dos Quadrinhos no Catarse para que as pessoas se sentissem parte dessa iniciativa. Além disso, o crowdfunding também funciona como uma espécie de pré-venda e o livro já saiu com mais de 700 exemplares vendidos”, lembra o publicitário, escritor e colecionador Ivan Freitas da Costa, que apostou na plataforma para viabilizar a realização de uma publicação em edição de luxo, com capa dura e 220 páginas coloridas em papel de alta qualidade, com 100 ilustrações exclusivas de personagens clássicos das histórias em quadrinhos.
Para o escritor e colecionador, o processo foi muito simples, pois partiu de planejamento minucioso que envolveu ampla pesquisa entre projetos similares para identificar benchmarks. “Usei no desenho do projeto Ícones, da escolha dos valores de contribuição e contrapartidas à logística de distribuição, que muitas vezes representa um grande problema para o realizador do projeto ao se ver tendo que manusear centenas de itens (no meu caso, de livros de 1,7 kg) e enviá-los num curto período de tempo”, destaca ele, que movimentou no Catarse campanha, entre 01 de julho a 20de agosto, que atingiu sua meta de R$ 34 mil em um mês, aproximadamente.
Bem sucedido, os livros começaram a ser distribuídos trinta e nove dias após o encerramento da investida. Da mesma forma, todas as recompensas já foram entregues, inclusive as especiais, e o Ícones dos Quadrinhos acabou se tornando uma referência. “O realizador precisa convencer as pessoas de que é, de fato, uma boa ideia. Não podemos esquecer que no crowdfunding valem as mesmas regras de mercado: o produto tem que ser atraente e adequado para o público-alvo; a comunicação tem que ser clara e eficiente; o preço (contribuição x recompensa) tem que ser bem coerente e ele tem que ser capaz de chegar a quem realmente tem interesse por aquele produto. Talvez essa seja uma das grandes diferenças entre os projetos bem-sucedidos e aqueles que morrem na praia”, lembra Ivan, que frisa alguns cuidados importantes como identificar as melhores práticas, calcular e recalcular custos, manter comunicação e buscar apoio.

Como muitos empreendedores brasileiros estão se aventurando nesta proposta, é importante manter essas dicas como uma estratégia neste processo. “Esta é uma forma inovadora e simplificada de captação de recursos financeiros para investimentos em projetos de cunho cultural. E tem como características fundamentais o curto prazo e baixo valor investido e seus alicerces nas mídias sociais e no bom networking de quem capta esses recursos. Quem ajuda com os valores, incentiva a promoção dos eventos, é detentor de cotas de ‘responsabilidade’, e tem retorno garantido, pois se o evento não acontecer, seu valor investido retorna”, destaca o consultor Marcelo Homen de Mello, que tem desenvolvidos projetos com o apoio do financiamento.
Entre 2011 e 2012, ele desenvolveu seis projetos em São Paulo através de plataformas como Catarse e Queremos, que deram conta do recado. Todos os objetivos dos projetos culturais de participação coletiva foram alcançados, e o retorno para aqueles que colaboração no processo integrou acesso diferenciado aos eventos, “Espaço Vip”, maior interatividade com os eventos e sobretudo a responsabilidade compartilhada. Com as experiências, aprendeu que é necessário fidelizar quem investe neste tipo de participação, propondo incentivos e uma proposta com os quais ele se identifique. “Nunca inicie nada sem uma visão geral de todo o projeto. Isso vai lhe economizar recursos, minimizar frustrações e controlar variáveis. Se o interessado não tiver essa visão, e nem tão pouco habilidades de planejamento estratégico, procure alguém com essas competências, mas repito, não inicie sem um bom planejamento e visão global”, frisa Marcelo.
O tipo de ação está diretamente envolvida nos resultados para uma proposta bem sucedida também. E quanto maior o projeto, maior poderá ser o resultado ou o seu fracasso. “Levantamos R$ 208,6 mil junto a 600 patrocinadores pessoas-físicas. O valor corresponde a 25% do valor total do projeto, que também contou com o patrocínio de empresas de peso como NET e Cinemark. Foi a 1ª vez que um longa-metragem utilizou crowdfunding com incentivo fiscal (Lei do Audiovisual) para complementar o seu financiamento”, diz Fernando Schultz, um dos co-produtores do filme Eu maior, que capitaneou recursos pelo catarse.

Na proposta, qualquer pessoa poderia contribuir a partir de R$ 100 com a vantagem de abatimento fiscal no Imposto de Renda do ano seguinte, além disso os investidores tiveram diversas contrapartidas como um par de ingressos para a pré-estreia e nome dos créditos finais. “O longa foi lançado oficialmente em novembro em várias plataformas – pagas e gratuitas: streaming via internet, download no Itunes, DVD, Blu-Ray e nos cinemas, pela rede Cinemark. Qualquer cidade que tenha uma sala Cinemark poderá ser fechada especialmente para exibir o filme, mediante financiamento coletivo via Catarse.me”, comenta Fernando. Com esta estratégia, não só os espectadores teriam a oportunidade de assistir ao filme em tela (mínimo de 150 pessoas mediante pagamento de R$ 20) como os realizadores possibilitaram que pessoas assistissem pela internet, sem qualquer custo (120 em quatro dias, neste caso).
O jornalista Julio Andrade (PE) apostou nas redes sociais para o apoio necessário na realização do financiamento coletivo do seu projeto Intimismo da Alma, lançado em novembro passado dentro de um planejamento estratégico definido pelo autor. “Inicialmente determinamos um prazo de 60 dias para obtermos o retorno necessário, determinamos também que cada colaborador receberia um exemplar do livro, como forma de retorno de seu investimento. Outro ponto que refletiu diretamente na redução da nossa planilha financeira, foi termos elaborado todo projeto gráfico, o que representa cerca de 40% de qualquer produção literária, enviamos todo o material pronto para a gráfica apenas para impressão. Divulgamos a campanha maciçamente durante o período estipulado e ao final atingimos a venda antecipada de 120 exemplares, o que custeou todo o projeto”, lembra ele.
Agora, o plano de trabalho se encontra numa fase tão difícil quanto: a venda que conta ainda com o apoio dos amigos. “Colocamos o livro no mercado em diversos pontos de vendas em outros estados (Rio de Janeiro, São Paulo, Bahia e Paraíba), através de amigos. Cada um tem uma cota de venda de 100 exemplares e participação financeira, portanto o livro não será encontrado com tanta facilidade, o que desperta ainda mais a curiosidade dos leitores e nos direciona para uma excelente estratégia de vendas”, comenta Andrade, que ainda mantém contato com algumas organizações não governamentais para parcerias e contribuição social.
* Parte de matéria de capa sobre Crowdfunding, produzida pela jornalista Ivelise Buarque para a Revista Pronews, edição de Janeiro/ 2014, número 165.
