Sabe aquela velha e conhecida frase do filósofo chinês Confúcio (551 A.C. – 479 A.C.) “uma imagem vale mais do que mil palavras”? Pois bem, este dito popular talvez tenha mais do que nunca força nos dias de hoje com a inovação tecnológica. Afinal, no mundo dos selfies e das fotos instantâneas, o que se vê é real para muitos, especialmente, no universo da comunicação. E é neste cenário que um campo encontra cada vez mais espaço atualmente: o da pós-produção e do retouch, atendendo uma demanda que agora se torna fundamental na finalização de qualquer grande trabalho de criação. E em muitos casos sua abordagem no processo pode se tornar um diferencial na execução da ideia. “O mercado de comunicação já utiliza a pós-produção de imagens desde sempre, só mudando a forma, no início do século passado as imagens eram retocadas à mão, como nas pin ups da Coca-Cola, depois, com a chegada do computador e do Photoshop só mudou a ferramenta, que evoluiu e ficou mais acessível”, acredita Bertone Balduíno, diretor de criação da Blackninja (PE).
Com isso, observa-se que uma imagem é mais do que uma imagem. E a realidade do mundo pode cada vez mais ser retocado, melhorado e manipulado, e isso pode ser maior quando diante das novas tecnologias e aplicativos. No dia a dia das pessoas, por exemplo, casos já se tornaram clássicos nas redes sociais digitais ao provar que a ideia do “você não é bem quem diz ser”, a exemplo de histórias mostradas em programas de televisão, como o Catfish da MTV. O “eu” de algumas pessoas se tornam o alter ego de quem desejam ser para atrair outras pessoas. E por mais que isso pareça tolo, este conceito impera em vários universos cotidianos e profissionais, quer se goste ou não. “No mundo da fotografia, desde Niepsi, existe o retoque. A grande questão é onde usá-lo. Verdade ou Mentira? A sociedade capitalista selvagem precisa de Photoshop para vender suas mentiras, portanto tudo não passa de fraude. Por um angulo filosófico, o retouch nada mais é do que – me engana que eu gosto. Um exemplo é o da Fátima Bernardes. Com um programa ao vivo e a qualidade de imagens das TVs de ponta, deixar-se retocar ao ponto da pele virar bunda de neném, e desviar a atenção do produto, para sua suposta plástica virtual, no anúncio de enlatados e comidas processadas, nas revistas com foto de altíssima resolução mentirosa. É muita salsicha pro meu Bonner”, comenta Sávio Araújo, diretor executivo e de criação da Sávio Araújo Produções Artísticas (PE).
Apesar de não interligarmos a pós-produção ou o retouch nestas circunstâncias, a verdade é que os fracassos sempre ganham maior destaque do que os sucessos desse processo no mercado. A imagem de Preta Gil em 2013 no “Special For You” da C&A, por exemplo, chamou ais atenção do público e da imprensa do que a própria campanha, afinal, como não prestar atenção na manipulação feita no rosto e corpo da estrela tão alterados com o uso excessivo do Photoshop. Outro exemplo bastante criticado foi o da atriz Carol Castro que apareceu em ensaio da revista Boa Forma, em 2010, mais bronzeada e sem a tatuagem que tem na região da barriga. Parece até um problema das terras tupiquins, mas não é. O mercado norte-americano detém sua própria quota de falhas de imagem na imprensa, na moda e na propaganda. Mas, nos Estados Unidos, entretanto, muitos se tornam casos de escândalo político. O uso do retoque digital, inclusive, alterou imagem divulgada do presidente Barak Obama saindo do Força Aérea 1 de mãos dadas com a primeira dama, mostrando duas mãos na mesma imagem.

Apesar desses casos questionáveis, a pós-produção e o retouch representam tratamentos que pode trazer melhoramentos significativos para uma imagem, considerando-se todas as suas possibilidades e as ferramentas à disposição. E, independente da situação, a realidade é que sua força traz grandes benefícios em um quadro geral, e proporcionam oportunidades que atendem não só aquela básica “garimpada” no visual, no dia-a-dia das nossas atividades, pessoais ou profissionais, como serve para favorecer o projeto no final. “Pós-produção e retoque (retouch) são no fundo a mesma coisa, uma etapa de produção (seja ela impressa, filmada, digital). Em minha opinião, ela sempre existiu, apenas com limitações de cada época. Acredito que sempre teve algum processo final, realizado após uma filmagem ou uma fotografia ter sido feita, por mais simples que seja. E isso já seria conceitualmente uma pós-produção”, diz Ivan Loos, diretor de arte na Leo Burnett Tailor Made (SP).
Numa tradução literal do inglês, a palavra Retouch sempre associada à pós-produção significa retoque, um processo que é bem conhecido no dia a dia. Seja no mundo da moda, beleza e até mesmo o mundo masculino, esse trabalho é mais comum no meio Revista, mesmo que não se apegue muito ao real. Contudo, acima de tudo, está presente quando as ideias maiores precisam de um “plus”. E mesmo que esteja interligado ao das agências, o processo é totalmente diferente em um estúdio de pós. “Imagens precisam de retoque quando a gente fala em limpeza, tirar as ‘sujeiras’ que devem ser eliminadas, e é aí que as imagens precisam de retoque, as digitais principalmente. Mas ela também precisa de um processamento, normalmente feito em programas como o Lightroom, Adobe Camera Raw, mas além do processamento ela precisa de um ajuste de contraste, de nitidez, que muita gente confunde e chama de retoque”, esclarece Clício Barroso, sócio do ADI-Atelier de Impressão (SP).
Por isso, a ideia que ficou condicionada até hoje é a da manipulação. Contudo, a proposta de “Photoshop” ainda é atual, ou este é apenas um conceito ultrapassado, que ficou no imaginário e no vocabulário popular? “O retoque em si é alterar os pixels da imagem, mudar, apagar, acrescentar, trocar céu, etc. Claro que é desnecessário na medida em que a imagem foi bem feita, bem produzida. Neste caso, não é necessário fazer retoque corretivo algum, vamos dizer assim, depois da imagem pronta. Então fica difícil quando a gente fala de ‘photoshop é um programa que tratar a imagem’, porque o que é tratar? Ele pode processar através do Câmera Raw, pode retocar e simplesmente ajustar as imagens. Todas as fotos precisam de ajustes”, ressalta Barroso.
* Parte de matéria de capa produzida pela jornalista Ivelise Buarque para a Revista Pronews, edição de Julho/ 2015, número 183
