Para Murilo Gun, a liberdade e o pioneirismo geraram negócios. “Ser pioneiro é antecipar o que ainda vai acontecer e desde já se posicionar” enfatiza o administrador, professor especializado em criatividade, comediante especializado em humor corporativo e palestrante especializado empreendedorismo. Modéstia a parte, ele incorpora como poucos a imagem de pioneirismo que ele mesmo acredita ser uma distinção no mundo de hoje. E não a toa. Sua trajetória profissional começou ainda na adolescência, há quase 20 anos, quando enveredou passou a desenvolver uma interação profunda com o meio online que uniu dois conceitos que para ele são as chaves para fazer acontecer no país: saber e ocasião.
“Empreender é o casamento do conhecimento com a oportunidade. Na minha adolescência, eu tinha o conhecimento sobre informática e em 1995 surgiu a oportunidade: a internet comercial estava iniciando no Brasil. Tá feito o casamento”, destaca ele que começou assim a desenvolver projetos e falar de comércio eletrônico e email marketing num período em que estas questões ainda estavam engatinhando no Brasil. E isto o levou a se destacar na área de gestão de negócios com foco em tecnologia, criando, inclusive, o primeiro treinamento para criação de sites, em parceria com a Mundi Multimídia (o CD-ROM “Criando Home Pages”).
Foi com este pensamento que ele inovou e, desta forma, conquistou por duas vezes o prêmio iBest como o melhor site pessoal do Brasil, e ainda foi prestigiado com a medalha de honra ao mérito José Mariano, da Câmara Municipal do Recife, primeira comenda dada até aquele momento a um jovem em sua faixa etária. Mas, ir além do reconhecimento é uma das suas metas principais. Esta visão de inovação e empreender tem um foco mais profundo: contribuir para a ampliação do olhar sobre o empreendedorismo, com criatividade, liberdade e oportunidade. “Ouço muito o bordão ‘tem que estar sempre antenado e seguir as tendências’. Concordo com o ‘estar antenado’ mas discordo do ‘seguir as tendências’. Quem SEGUE tendências está atrasado, afinal, se você está SEGUINDO, é porque tem alguém na sua frente. Quem ANTECIPA tendências é que fica bem posicionado e passa a ser seguido. Ser pioneiro é antecipar o que ainda vai acontecer e desde já se posicionar”, destaca.
Afinal, estamos falando de um profissional que vem enfatizando esta questão há tanto tempo, a partir da própria experiência, e com sucesso. Uma vida com história que só reforçam a ideia de que a sua relação com o computador seria longa e sua jornada no mundo dos negócios seria ampla. “Quando eu tinha 12 anos, quando o meu pai me deu um computador e este fato da minha infância definitivamente mudou o rumo da minha vida. Hoje em dia, as crianças ganham computador até mais cedo do que isso, mas na época (em 1995) computador era algo caro e complexo, e normalmente o computador era do pai/mãe e a criança/adolescente tinha acesso de vez em quando. No meu caso, não. O computador era meu. Eu tinha liberdade total para explorar, experimentar e principalmente errar. A cada dois meses, tinha que levar o computador na assistência porque eu tinha sido contaminado com um vírus ou causado algum problema no sistema operacional”, lembra Murilo.
Para ele, esta liberdade lhe deu a possibilidade de iniciar a sua carreira na área de tecnologia. “A liberdade de errar foi uma política constante na educação que os meus pais me deram. E acho que isso fez toda a diferença pra mim”, reforça. E com isto na cabeça não foi difícil para Murilo iniciar ainda nesta mesma época uma carreira como palestrante especializado neste universo digital que já conhecia. Um trabalho que ainda desenvolve hoje, mas, neste caso, focado em “Criatividade para solução de problemas” e “Empreendedorismo Criativo”, temas também de cursos que ministra país afora para grupos de executivos e staff de diversas organizações e de marcas como BMW, Esposende, Banco do Brasil, HP, Petrobras, Brastemp e Itaú, por exemplo.
“Para a geração dos nossos pais e avós, é muito comum o profissional que passou 40 anos na mesma empresa e cuja vida se confunde com a empresa. Hoje em dia, é improvável passar 40 anos numa empresa. É bem mais provável passar 10 anos em quatro empresas ou quatro anos em 10 empresas. O jovem mudou e o mercado também mudou. Tudo agora acontece mais rápido e é preciso ficar atento para pivotar o seu negócio. Gosto sempre de pensar que a maior empresa do mundo de 2020 ainda não nasceu”, acredita o especialista que largou em 2006 o papel de empresário e tornou-se profissional liberal, dedicando-se aos shows de humor, as palestras e as aulas.
A familiaridade e a demanda de um segmento sedento pela sua experiência e visão do mundo dos negócios contribuiu para as conquista desta nova carreira, que só complementa sua paixão pelo fazer, pela busca do novo, pela inovação. “Dizem que quem trabalha com o que gosta, nunca trabalha. Pois eu penso exatamente o oposto. Quem trabalha com o que gosta, está sempre trabalhando, pois, já que gosta do trabalho, acaba misturando o trabalho e o lazer. Na verdade, trabalho e lazer nunca deveria ter sido separados. Meu hobbie, portanto, é criar”, diz orgulho Murilo, que nesta ânsia pelo novo, mais uma vez colocou seu pé na estrada para novas empreitadas.
Desta vez, o seu salto foi tanto geográfico quanto profissional. Em junho deste ano, ele embarcou para o Vale do Sicílio, na Califórnia (EUA), para se aventurar durante dois meses e meio no Singularity University do NASA Ames Research Center. Durante este período, teve oportunidade de imergir numa rede de conhecimento compartilhada por apenas 80 pessoas do mundo selecionadas para esta escola de empreendedorismo e inovação tecnológica, fundada pelo futurista Ray Kurzweil e pelo empreendedor Peter Diamandis. “Conheci a Singularity através do livro ‘Abundância’. É um livro que fala de uma visão otimista para o futuro. Um futuro em que as tecnologias vão proporcionar uma abundância de recursos (água, comida, energia, etc.). O livro é escrito pelo Peter Diamandis, um dos maiores empreendedores do mundo e fundado da Singularity. Quando comprei o livro, ele nem havia sido publicado no Brasil e tudo parecia distante para mim: um livro em inglês, que fala de uma escola de futurismo que funciona dentro do parque da NASA, no Vale do Silício, em parceria com o Google. Era distante, mas a minha curiosidade infinita me fez ir atrás”, lembra.
Desta convivência com outros profissionais de 35 países, participando de palestras e workshops com a nata da tecnologia, inovação e empreendedorismo do mundo, não foi apenas uma experiência única e inesquecível como enriquecedora em diversos aspectos que vão bem mais do que o estudo de tecnologias exponenciais como a robótica, a biotecnologia e a nanotecnologia. “O Brasil tem muitas mentes pensantes e projetos tecnológicos interessantes. O que sinto falta é a ‘cultura do fracasso’ que existe no Vale do Silício. Aqui, o fracassar é muito mal visto. Lá, fracassar é parte fundamental do caminho para um sucesso. Se um cientista/ empreendedor brasileiro ousar em fazer algum tipo de inovação, ele vira piada: ‘coisa de brasileiro’. Isso parece besteira, mas é um grande desestímulo à inovação. Inovação é um processo de tentativa-e-erro”, frisa.
Esta lição importante que trouxe na bagagem só reforça a perspectiva de aprendizado e de empreendedorismo que carrega consigo desde a infância, e numa análise ampla talvez seja o grande entrave de empreender no Brasil, especialmente para os jovens. Da mesma forma, tem sido um gargalo no mundo da criatividade livre a visão engessada de empreender no país, que até hoje está atrelada ao diploma e a uma estrutura que não estimula muitos novos olhares. “Acho que o maior problema do jovem é que o ‘cardápio’ de caminho para os profissionais oferecidos pelas faculdades está muito desatualizado em relação ao mercado de trabalho. E, infelizmente, existe essa pressão (da família e do mercado) para se fazer uma universidade. Acredito que para ser um médico, advogado ou engenheiro, é necessário cursar uma faculdade. Mas para muitos outros caminhos (incluindo administrador, publicitário e jornalista), acredito que se você pegar a verba/ tempo da faculdade e alocar para diversos cursos da área, o resultado final vai ser incrivelmente mais rico”, acredita.
* Matéria perfil com Murilo Gun sobre empreendedorismo criativo, produzida pela jornalista Ivelise Buarque para a Revista Pronews, edição de novembro/ 2014, número 175
