A formação empresarial que depende do talento e da criatividade está realmente transformando os mercados, e provocando uma ruptura na visão de empreendedorismo, que já enfrentava uma revolução nas últimas décadas. “A economia criativa hoje se tornou um termo tão abrangente e difuso que é reconhecido atualmente como tudo que se tem relação com o intangível, isso é que tenha recursos infinitos, não mais finitos como os recursos naturais. A relação com a inovação vem a partir da adesão das próprias empresas, que viram nesse fator de competitividade. Um aspecto central entre a inovação e a economia criativa e a adesão a um movimento social e a necessidade de substituir os meios e práticas antigas por outras traduzem as diretrizes do novo movimento. Ao se entender dentro da economia criativa, as empresas – para dirigir-se a inovação – devem necessariamente mudar sua forma de atuação, para, no mínimo, colocar a criatividade como motriz central. Isso requer uma nova maneira de encarar a inovação, o que leva a uma ideia de criatividade voltada para a inovação”, comenta Ilse Guimarães, curadora na categoria de ideia do Movimento Hot Spot, festival de artes integradas que reúne exposição de projetos nas áreas de moda, ilustração, design, fotografia, ideia e outros segmentos, tendo como foco principal impulsionar a economia criativa.
Há vinte anos, empreendia-se por uma questão de necessidade. A redução de ofertas de emprego e as dificuldades em vários segmentos foram a força motriz para novos negócios. Foi assim que aconteceu em meados da década de 90 quando o boom das dispensas bem remuneradas das grandes corporações e de algumas autarquias proporcionou a primeira leva de empreendedores. Posteriormente, uma nova fatia da sociedade, uma boa parte composta por jovens ansiosos, apostou nas possibilidades de franchising, gerando assim outro mercado promissor. A partir de então, entraram em cena novas tendências e com elas outra forma de integrar o mercado financeiro que agora ganha uma mais um acréscimo, configurando um cenário diferenciado em que existem 2,1 empreendedores por oportunidade para cada empreendedor por necessidade, segundo estudos de 2010 do GEM (Global Entrepreneurship Monitor).
Apesar da definição e a origem do termo não ser muito exata para muitos, acredita-se que este atual e moderno movimento tenha tido seu início com o surgimento das indústrias criativas, inspiradas no projeto Creative Nation, na Austrália, em 1994. Das terras da Oceania, esta visão de negócios se dirigiu para a Inglaterra onde foi condensada em uma publicação marcante sobre o assunto The Creative Economy: How People Make Money from Ideas (A economia criativa: como as pessoas podem ganhar dinheiro com ideias, em tradução livre), de John Howkins, que em 2001 definiu pela primeira vez os seus pilares de atuação. Isto não aconteceu a toa, afinal, em 1997, o primeiro ministro do Reino Unido na época, Tony Blair, já convocara representantes do governo e criara uma área multissetorial para pesquisar e analisar tendências de mercado e vantagens competitivas para definir setores promissores para o século XXI. E agora, mais de duas décadas depois da pesquisa realizada pelo país inglês, encontramos novos desafios, mas uma certeza de que, independente de suas culturas, países que desejam progredir precisam incluir em seus planos de governo a economia criativa. “Empresas e profissionais precisam perceber as sutilezas desse novo ambiente, onde tecnologia, conhecimento e arte se unem para diferenciar uma oferta da outra. É um desafio intelectual e criativo constantes. Não tem relação com o ambiente tradicional de competição em que todos brigam por qualidade e preço e os modelos se esgotam com destruição de valor. Tem a ver com valor percebido, diferenciais que geram reconhecimento, distinção e melhores resultados (lucros) para as empresas”, lembra Adolfo Menezes Melito, presidente do Conselho de Criatividade e Inovação da FECOMERCIO-SP.
* Parte da matéria de capa sobre “Economia Criativa” produzida pela jornalista Ivelise Buarque para a Revista Pronews, edição de Junho/ 2013, número 159.
