Apesar da crise econômica e política, o Brasil é um país emergente e com grande potencial de consumo, em todos os sentidos. Vivemos em um mar de possibilidades em várias frentes como no mercado de comunicação, industrial e de conteúdo para os mais distintos meios e dispositivos em especial móveis. E isso envolve aplicativos, games e uma vasta gama de conteúdo personalizado para diversos públicos sedentos pelo consumo em novas plataformas à mão, como a segunda tela. Mas, apesar do crescimento desta enorme demanda, que se reflete expressivamente no que diz respeito à publicidade, temos a questão da personalização desta comunicação e o relacionamento direto com esses stakeholders. “Se pararmos para pensar hoje, como podemos viver sem o mobile, como interagir com as pessoas, como chegar aos locais desconhecidos, como pedir taxi e até mesmo comida, quando usando esse dispositivo tudo fica mais simples, pratico, rápido e seguro?”, destaca Rogério Angelim, gerente de marketing e digital planner na Eduardo Feitosa (PE).
Para o especialista, é importante ter em mente que isso traz um novo movimento mais dinâmico, com interação constante com consumidores e inovação a todo momento no ambiente mobile. Por conseguinte, montar campanhas publicitárias é algo que precisa ter bastante planejamento, aproveitando os inúmeros canais e as mais diversas formas de segmentação. “É de fato um meio muito importante para o investimento publicitário pois possibilita muita personalização, claro que para fazer isso bem feito é preciso de gente preparada para fazer um trabalho de qualidade e que atinja resultados positivos. Esses e muitos outros fatores tornam o aparelhinho, ou muitas vezes um ‘aparelhão’ em um elemento essencial para as atividades do dia a dia. Comerciais de fabricantes de celular já se utilizam de momentos inusitados como uma pessoa tomando banho e interagindo com seu aparelho (resistente à água é claro). Isso reflete a realidade. Todos querem estar em contato com seus amigos e familiares, consumindo conteúdo, jogando games e realizando transações bancárias com facilidade e velocidade. O mobile permite isso e nestes diversos momentos ‘agarrado’ ao seu dispositivo móvel estamos à frente da TV. Nos restaurantes e até mesmo no trânsito vemos muitos motoristas interagindo com seu smartphone e atrapalhando o fluxo das vias”, reforça.
A percepção deste relacionamento do público com a segunda tela é fundamental para moldar o futuro do consumo de conteúdo e para o sucesso das ações das agências, marcas e veículos. Isto porquê a geração Y não só é a maior consumidora desta tecnologia como é nos dias de hoje (e ainda será) a maior presença no mercado de trabalho. “Na relação da publicidade com a segunda tela, acredito que estamos muito tímidos. Poucas ações são tão bem elaboradas. Gosto muito do case do HB20 sedan, uma pegada interessante que usou bem a segunda tela em ação com vídeo no Youtube. A ESPM esportes usa ‘hashtag’ específicas a cada temporada dos campeonatos de diversas modalidades para interagir e medir as atividades da sua audiência nas redes sociais. Mas temos que ver isso se refletir com ações mais encorpadas na TV aberta. O uso do mobile, por exemplo, para votação é legal, mas acho que temos potencial para coisas muito maiores se pararmos para pensar que quase grande parte da população está ali, na frente da TV com um dispositivo móvel conectado à internet”, lembra.

Com o novo comportamento do consumidor de mídias digitais, as empresas agora estão enxergando uma nova oportunidade de atuar, reter atenção do cliente com interatividade e experiências extras, buscando cada vez mais a inovação para superar a concorrência. “Se o Brasil tem 73% desse publico apenas esperando estas novas convergências, então estamos preparados adequadamente para a possibilidade da segunda tela. Mas as agências precisam utilizar e negociar com as empresas uma plataforma interativa para fidelizar cada vez mais os clientes com esse tipo de interatividade. E já podemos acompanhar como, por exemplo, a Go2Web que criou um aplicativo para a Estação Primeira de Mangueira. A primeira tela era a avenida e o próprio desfile, e a segunda tela estava nos aplicativos que os usuários do sambódromo acessavam para obter mais informações sobre a escola e o enredo. Como também podemos observar a BAND usa a segunda tela para trazer o consumidor de seus conteúdos a estarem mais próximos aos programas e artistas. Encontramos alguns aplicativos ainda como segunda tela até em outros esportes como o UFC com informações antes das lutas e tudo sobre a vida dos lutadores e outros”, pontua Robertson Alves, da Ikonos Marketing Consulting (PE).
Para o sócio-diretor da consultoria pernambucana, o impacto dessa tecnologia está cada vez mais modificando o hábito de assistir televisão uma vez que as possibilidades de interatividade tornam este relacionamento mais divertido e mais atrativo. Desta mesma forma, a tendência é ampliar a observação da mudança de comportamento do consumidor, trazendo mais uma oportunidade para as marcas e emissoras estarem mais perto dos clientes e propiciar uma renovação do consumo nacional. “Muitas marcas estão buscando investimento em mídias alternativas e digitais, pois o mercado evolui tecnologicamente e a sociedade tem que acompanhar. Sendo assim, as empresas patrocinadoras, canais de televisão e outros estão usando a tecnologia em favor de si mesma para assim se comunicar tanto em sua programação de cotidiano como também fora do horário de programação, gerando uma comunicação e propagação espontânea de sua marca e seu conteúdo. E isso é fantástico pois aproveita uma vertente da sociedade e vai na ‘onda’ com uma nova oportunidade de comunicação. E a publicidade ganha com isso pois os usuários podem receber na TV de seus smartphones preços de roupas e acessórios de um artista famoso que eles estão vendo no momento, por exemplo. Os 30” dos comerciais podem ser transferidos também para o consumidor fazer a compra, inclusive”, diz Alves.

Como uma nova forma de interagir em tempo real e criar uma experiência participativa do telespectador, a segunda tela vem servindo de informação complementar no processo de comunicação e, com isso, as mídias ganham um novo suporte. “No Sistema Jornal do Commercio de Comunicação costumamos fazer segunda tela em todos os jogos dos times do Recife (Sport, Náutico e Santa Cruz). Existe um link no NE10 (ne10.com.br) e no JC Online (jc.com.br) onde colocamos os lances da partida (chamamos de Lance a Lance), as escalações, gols, cartões amarelos etc. Também colocamos nesse link o player da Rádio Jornal, para quem quiser escutar a narração. Nessa segunda tela também colocamos um box de comentários, onde os internautas podem falar/ comentar sobre seus clubes”, menciona Diogo Menezes, gestor do núcleo de mídias sociais do SJCC.
Acreditando que os meios de comunicação tem que estar preparados para oferecer esse canal ao internauta, para o profissional esta é uma tendência comum hoje em dia e, sendo assim, é importante saber participar junto com ele. E um exemplo disso é esta experiência do sistema que também envolve o programa Cidade Viva, transmitido pelo portal NE10. “Os internautas são estimulados a interagir com o tema utilizando hashtags determinadas pelo SJCC no Twitter, Facebook ou Instagram. Essa mesma experiência foi feita, de forma exitosa, no debate da OAB (eleição em outubro de 2015). Esses dados são, inclusive, coletados pelo grupo de mídias sociais do SJCC e é feita uma avaliação de tudo que chega de interação”, destaca.
As investidas mostram que as pessoas largaram a postura de total inércia e agora querem, cada vez mais, interagir e participar das coberturas, dos programas e dos conteúdos trabalhados nos veículos. Mas, o relacionamento fica melhor se as ações forem pensadas de forma estratégica, bem feitas tecnicamente e proporcionarem uma experiência intima e pessoal com o usuário. Experiências mostram que segunda tela potencializa os relacionamentos.
* Matéria produzida pela jornalista Ivelise Buarque para a Revista Pronews, edição de Março/ 2016, número 191
