
Em 1992, a Gillette colocou no ar comercial intitulado como “Pai e Filho”, onde resgatava a imagem de um jovem pai fazendo a barba sob os olhos curiosos de seu garotinho que o observa com orgulho. No finalzinho, repetia-se o bordão Tchan, tchan, tchan, tchan! lançado em 1980 pela marca. O filme integrou um projeto de sucesso iniciado 10 anos que fazia referência ao produto com duas lâminas que representava facilidade e economia para se barbear, comprovando a qualidade da linha Prestobarba. “As abordagens em geral tentavam colocar os pais num patamar semelhante de importância com as mães, sempre mexendo com a autoestima”, Gustavo Queiroz – presidente do Sinapro-Bahia e co-presidente da Agência Morya. Nesta época, a publicidade passou cada vez mais a enfatizar as diversas perspectivas do papel do homem na criação e no envolvimento com as crianças, destacando que o amor de pai também é único e especial. Em 1992, o Banco Itaú mostrou em campanha de Seguros com uma mensagem simples e cheia de emoção as altas expectativas de um pai para ter um filho: “Esse sujeito vai roubar sua esposa, suas noites de sono, e ainda assim você vai ser completamente louco por ele”.
De forma bastante enfatiza, a campanha também mostrava uma nova perspectiva da comunicação para a figura paterna, que ainda não mantinha o mesmo peso em termos de ações específicas em comparação aos investimentos para o Dia das Mães, por exemplo. “Geralmente as campanhas em homenagem ao Dia dos Pais sempre valorizam a figura do pai sob o ponto de vista emocional, que é muito bacana e envolvente”, destaca Camila. Para a especialista, as campanhas buscam mais a parte emocional e, atualmente, têm explorado até o lado mais sensível do homem. E esta é a grande transformação que se abateu na propaganda voltada à imagem paterna. “Há uma campanha que me marcou, e que foi a de um pai que brincava com a filha pequena assim que chegava do escritório, mesmo cansado após um dia inteiro de trabalho. Isso me lembrou muito a minha relação com o meu pai, na minha infância”, completa Leoni.
As campanhas criadas para o Dia dos Pais passaram cada vez mais a emocionar em relação as linguagens abordadas, anteriormente, e como estão hoje. Esta era a nova construção deste relacionamento, refletido com apelos mais realista sobre a mudança do papel moderno da paternidade. “Esta relação envolve muita emoção e força e um trabalho que me emocionou por caracterizar esta mensagem é a campanha da marca ‘Gelol. Não basta ser pai’. Ela mexia com o ‘sentimento de culpa’ de todo pai de não ser muito presente. Pegava todo mundo!”, lembra.
Produzida em 1984, por Duda Mendonça, a propaganda da marca destacou que a relação dos filhos com os pais é de companheirismo e sua presença nos momentos mais importantes é tão fundamental que ajuda a se deixar abater pelos percalços da vida, com um slogan que se tornou um dos maiores chavões que conhecemos: “Não basta ser pai, tem que participar. Não basta ser remédio tem que ser gelol”. Essas são algumas das experiências que mostram que há muito amor envolvido nas homenagens a eles pelo Dia dos Pais e refletem que os papéis não são tão distintos como se acredita.
“Acho que as campanhas se modernizaram muito, hoje mais ligadas a uma igualdade de gêneros, não diferenciando tanto pai e mãe. Antes era muito ligado a ser como o pai e as propagandas focavam mais em filho homem, com o pai. Hoje também se abriu espaço para um novo conceito de família onde um filho pode ter dois pais ou duas mães, e tudo é positivo”, completa Ranauro. Ele se recorda ainda de outra campanha bem interessante que foi muito pouco veiculada: “Natura Pais”. Criada ano passado pela África, o trabalho reuniu um público de mais de 30 mil pessoas em um estádio em São Paulo, numa ação que exibisse a emoção entre filhos e seus heróis em uma homenagem surpresa. A campanha digital para o Dia dos Pais da Natura, desenvolvida pela agência Salve, focou-se em oito pais que foram surpreendidos com depoimentos no telão dos filhos os homenageando no intervalo de um jogo de futebol.
Com o mote “Chame o abraço do seu herói preferido”, a campanha apresenta a importância da relação do filho com o pai numa investida ousada e cara da marca, que apostou de forma sensível e emocionante na ideia de que este amor fraternal não tem idade e que nunca é tarde para prestigiar aqueles que estiveram do seu lado à vida toda. “Com a redução dos investimentos o Dia dos Pais perdeu força, em minha opinião. Hoje não temos mais tantas campanhas focadas no dia dos pais e as marcas estão centrando força em datas mais fortes como mães e Natal”, reforça Gustavo Queiroz. Mudanças mostram outro lado do Dia dos Pais em campanhas pautadas na sensibilidade e emoção.
* Matéria perfil produzida pela jornalista Ivelise Buarque para a Revista Pronews, edição de Agosto/ 2016, número 196

