“Quanto mais a gente souber conectar esses mundos diferentes, melhor vamos aproveitar o potencial de cada um deles”, é o pensa a jornalista Daniela Arrais, uma jovem profissional pernambucana, bastante centrada, que conseguiu aliar a comunicação em todas as esferas e possibilidades. Formada pela Universidade Federal de Pernambuco, ela passou pelas redações do Jornal do Commercio e chegou inclusive há atuar durante anos pela Folha de São Paulo, mas foi a paixão pelo jornalismo online que a conquistou, depois de uma paquera despretensiosa. “Sempre achei que fosse fazer duas coisas na vida profissional. Me formei em jornalismo, fiz o programa de treinamento da Folha de São Paulo, trabalhei por lá durante alguns anos. Em paralelo, comecei um blog, o Don’t Touch My Moleskine (www.donttouchmymoleskine.com), onde ia postando textos, músicas, fotos que me alegravam. Por causa do blog, conheci a Luiza Voll, hoje minha sócia. Ficamos amigas de internet, nos conhecemos no mundo físico e percebemos que tínhamos uma paixão muito grande pela internet. Daí decidimos fazer algo juntas. Assim surgiu a Contente”, lembra ela.
Hoje, Dani (como a chamam) comanda com a amiga e sócia esta empresa de projetos especiais, que acontecem na internet e fora dela, criada em 2010. Entre os diferenciais se destacam iniciativas com foco na fotografia (Instamission), amor (Pós-romance), tecnologia (Dear Google Reader), autoajuda (Autoajuda do dia), e festas do mundo (Dia de Festa; a ser lançado). E o principal detalhe é que todas essas investidas têm como suporte a fotografia, o texto e o vídeo para contar histórias, por exemplo. “Passei alguns anos tocando as duas profissões simultaneamente. Trabalhava no jornal, fazia a empresa na hora do almoço, à noite, em alguns fins de semana. Há pouco mais de um ano foi que decidi me dedicar 100% a Contente. É uma experiência maravilhosa e bem desafiadora trabalhar com o que você criou e no que você acredita”, destaca.
Mas, este começo não foi fácil. Afinal, ser uma empreendedora jovem por si só já é difícil, mas empreender sem saber como fazer o start é talvez um dos maiores desafios. Mas, encarar de frente e superar dificuldades acabou se tornando um dos grandes baratos no processo. “A gente aprendeu e aprende o empreendedorismo na prática, colocando a mão na massa. Nunca estudamos negócios, fomos fazendo e aprendendo, o que foi bom porque nos deu um frescor, uma coragem grande para experimentar, mas também nos deixou inseguras em alguns momentos. Os nossos backgrounds (o meu como jornalista e o dela como publicitária) sem dúvida nos ajudaram na construção da Contente”, comemora.
Assim como em qualquer ideia empreendedora, a Contente encarou o mesmo processo evolutivo. E isto deu antes de tudo muito mais possibilidades para fazer do jeito que se queria, e isto ampliou sua visão sobre negócios no Brasil. “Considero mais como um plano B mesmo que, em pouco tempo, nos mostrou um novo mundo de possibilidades. O investimento foi praticamente zero, o que nos livrou da angústia de ter que ter um retorno imediato. Isso nos deu liberdade de criação e poder de decisão sobre o que queríamos fazer”, comenta.
A experiência definitivamente vem rendendo grandes lições e são elas que a tem ajudado ainda no dia a dia pessoal. E, por isto, há um ano ela tomou uma decisão inusitada que vai de encontro, no ponto de vista de muitos, do seu fazer profissional e as regras da maioria nos dias de hoje: deletou seu perfil no Facebook. “Estava cansada dos excessos de posts, da quantidade de ‘amigos’ (tinha mais de 2.000, socorro!) e, principalmente, das tantas opiniões formadas rapidamente sobre absolutamente tudo. Tinha diminuído consideravelmente a quantidade de leitura. Me acostumei a acompanhar as notícias que as pessoas compartilhavam no meu feed. E daí percebi que na maioria das vezes elas eram trágicas ou sensacionalistas. E que a minha atenção durava o tempo do primeiro parágrafo. Queria voltar a ler jornal, revista, sites e blogs que me interessavam, e não necessariamente os mais populares da timeline”, destaca ela que ficou um ano fora da rede.
Este tempo que ficou ausente da mídia social lhe rendeu boas oportunidades, como a de voltar a ler mais livros e as notícias pelas quais se interessava, colocar os e-mails em ordem e trocar emails mais longos, como cartas, por exemplo. “Voltei a aproveitar a minha internet e a achá-la gigante e surpreendente. Deixei o RSS de lado, reorganizei meu links preferidos na tradicional e old school barra de favoritos (e deu super certo!) e vou vendo o que quero de acordo com o mood. Hoje é dia de ver meus blogs preferidos? Vamos lá. Amanhã vou ver umas coisas de decoração e, no dia seguinte, pesquisar umas receitas e uns restaurantes legais. Voltei a usar o Twitter, que continua sendo um lugar excelente pra gente se informar bem sobre vários assuntos. Basta fazer uma boa seleção de fontes pra seguir e daí conseguimos acompanhar o que quisermos com consistência, sem esquecer, claro, de todo o humor que dá as caras por lá”, reforça.
Mas, a decisão gerou um grande alarde no seu mailing. Muitos questionaram a iniciativa, outros tiveram dificuldade de se adaptar à ideia, contudo, no fim, alguns acabaram assumindo que gostariam de ter tamanha coragem. “Não estar no Facebook virou um assunto. Algumas pessoas perguntaram já, notaram a ausência, mandaram mensagem, email, puxaram papo no Gtalk. Outras pra quem eu contei disseram: “Mas não pode! Você trabalha com isso!’ Continuo trabalhando, mas de um perfil institucional, meu e da Lu, pelo qual podemos administrar as fanpages dos nossos projetos. É uma paz entrar lá e não ver um monte de besteira, e sim os nossos próprios projetos, que a gente ama fazer e compartilhar”, comenta a jornalista Daniela Arrais que uniu assim suas paixões.
Mas, por outro lado, percebeu que perdeu muito com esta opção. Além da rotina que se foi, ela deixou escapar uma série de discussões e principalmente grupos interessantes, além de ver alguns engajamentos e manter contatos com parentes e amigos de perto. “Deixei de saber muito do que alguns amigos e conhecidos estão fazendo. É impressionante como cada vez menos gente troca emails. É melhor fazer o broadcast para os seus 1.000 amigos do que escrever para aqueles 10 mais importantes. Uma amiga lançou um livro e fez o convite pelo Face. Perdi o bonde. Devo ter perdido outras coisas também, mas não soube”, descobriu.
Apesar do que esta iniciativa lhe proporcionou, ela retornou ao Facebook após um ano off-line. E neste meio tempo descobriu formas de manter tudo integrado. E ainda se admira com a evolução deste mundo globalizado em que podemos experimentar tudo e solicitar tudo a um clique dos dedos. Viver digitalmente, na opinião dela, não restringe ou corre o risco de anular o verdadeiro conceito de rede social da nossa sociedade, pois estamos caminhando para um melhor entendimento e superando a separação do off e do on. “As redes caminham juntas. Não adianta ter tudo ao alcance da mão se você não pode compartilhar o que descobriu em um papo cara a cara. Acho que cada vez mais a gente vai equilibrar essa dosagem de on-line e off-line”, diz ela.
E é assim que a jovem jornalista e empreendedora digital vai aliando o fazer com o amor, trilhando um caminho muito particular no mercado de comunicação e do marketing digital. Universo que domina com tanta maestria pessoal e profissionalmente através do seu blog e do negócio da Contece. “Sou apaixonada pelo Instagram. Também uso muito o Twitter. E acabei de voltar para o Facebook, depois de ter passado um ano sem. Escrevi sobre este processo no nosso blog: http://contente.vc/blog/como-passar-um-ano-sem-facebook-deletar-facebook-facebookcidio/”, ressalta.
* Matéria sobre Empreendedorismo Digital, produzida pela jornalista Ivelise Buarque para a Revista Pronews, edição de Maio/ 2014, número 169.
