Como apregoam muitos especialistas, estamos vivendo ápice da revolução digital, e com ela a criatividade é um imperativo que deve fugir à acomodação do formato tradicional da comunicação. Hoje, o saber se comunicar com o público ganhou novo paradigma, afinal, envolve ainda conseguir gerar conteúdo relevante e obter engajamento. Este é o grande desafio dos publicitários e o grande foco das marcas, que tentam ultrapassar as resistências e alcançar este novo território em franca transformação: o da comunicação digital. É este novo cenário radical que é mostrado ao leitor no livro “Terrorismo de Marca” pela jornalista e publicitária Izabela Domingues, que carrega uma bagagem de 20 anos de atuação em agências em São Paulo e no Recife, compartilhada em sala de aulas da Faculdade Aeso Barros Melo (PE), onde atua também como coordenadora. “Estamos vivendo profundas transformações nos setores da Propaganda e do Marketing. A lógica da sociedade em rede mudou a lógica da Publicidade e as empresas e agências estão se adaptando a essas novas configurações”, destaca ela.
Mestre em comunicação pela UFPE e diretora da Consumix – Consultoria de Comunicação, Consumo e Cultura, a profissional dá luz à grande incógnita hoje no mercado sobre o sucesso ou não das empresas em sua comunicação frente ao novo mundo: o da cultura digital. “Branding é tudo para o mundo do marketing e da comunicação. Todos podem ser percebidos e tratados como marcas: dos produtos às pessoas e até mesmo países, que buscam cuidar das suas imagens de marca cada vez mais”, diz Izabela, que acredita que este é sucesso daquelas marcas que sabem se integrar com o target. “O consumidor está mais informado e mais crítico. As marcas que souberem se relacionar melhor com esses consumidores/ cidadãos, ouvindo-os e se colocando em diálogo com eles vão se destacar neste mundo em rede”.
No livro, que resulta da pesquisa de mestrado em Comunicação Social na UFPE, que Izabela Domingues concluiu em 2011, o fator principal era investigar o que está acontecendo com o mercado, trazendo uma nova reflexão sobre a relação hoje do consumidor moderno com as marcas. E sejamos francos. A relação de amor e ódio nunca foi tão latente quanto é hoje com as redes sociais. “O consumo é algo que vem se construindo muito antes da Publicidade. Claro que ela é um motor de aceleração do consumo, mas falar de consumo é algo bem mais complexo e abrangente. Estamos em um mercado que passou a consumir mais nos últimos anos. Isso modifica as relações sociais e até políticas com novas demandas e desafios”, ressalta a especialista que hoje enfrenta também novos desafios como consultora e diretora da Consumix, empresa que comanda desde 2009 com o objetivo de proporcionar uma nova leitura do mercado para o próprio mercado e trazer novas ideias como o projeto de transformação de lojas de conveniência em boates em ação de brand experience, no Recife, para a cerveja Heineken, em parceria com a agência pernambucana Trio Comunicação (PE), em 2010. “O mercado é crescente e promissor. O conhecimento é fundamental para se manter competitivo num mercado em profunda transformação e aqueles que conhecerem o mercado, mas detiverem conhecimento de ponta têm mais chances de se dar bem”, reforça ela sobre as possibilidades do mercado de comunicação na região.
Para Domingues, a publicidade está se moldando a uma nova realidade comunicacional que está quebrando com os conceitos tradicionais conhecidos e aplicados até um tempo atrás. E essas revoluções que têm mexido com o mercado e a profissão são positivas, pois elas estão energizando os comunicadores com novas ideias, novos olhares e novos formatos de interagir com o público e com o consumidor. “O império dos meios massivos como a grande forma de comunicação está em declínio. Essas mídias continuam sendo relevantes, mas a ascensão dos meios digitais ganha cada vez mais força. E quando eu digo que é preciso detonar as velhas ideias, eu quero dizer que é preciso não temer o novo, se preparar para ele, acompanhando as transformações por que estão passando a mídia e a sociedade”, comenta.

Em sua avaliação, a maioria das empresas e marcas ainda está engatinhando na utilização dos meios digitais e na exploração das suas potencialidades. E neste novo cenário não tem como uma marca ou empresa ter resultados estando fora desta aldeia digital, que se transforma intensamente a cada instante. Mas, ainda assim, devemos nos adequar ao formato necessário para conquistar as metas. Afinal, nos dias de hoje, todos nós estamos vinculados em alguma rede, mídia ou utilizamos alguma ferramenta social e precisamos usá-la da melhor forma possível. “Para trabalhar isto de forma correta e alcançar bons resultados, é preciso estar nessas mídias e se utilizando delas de forma adequada, primeiramente. Há, por parte de algumas empresas ainda, um certo descaso com as mídias sociais. Outras, não se preparam para utilizar essas ferramentas de maneira adequada. Elas são o futuro, ou melhor, já são o presente”.
E é por isto que a professora dá um recado importante para seus alunos e para as empresa: “Quem não temer o novo, mas se juntar a ele, estará preparado para o mercado do futuro. Pensar de maneira inovadora também será cada vez mais importante. Abaixo às fórmulas. Viva a inovação”, ressalta Domingues, que vem fazendo isto em sua vida, buscando novos desafios e projetos, como o de escritora. Mas, o campo literário não é um mistério para a consultora que já havia lançado a publicação infanto-juvenil “A menina marca-texto”, em 2009, pela editora Calibrãn, sobre as aventuras de uma garota curiosa em busca de um livro especialíssimo dentro de uma biblioteca, e que vem resgatando lembranças lúdicas inclusive em adultos, que se apaixonaram pela obra.
Izabela, que se inspirou nesta primeira obra nos trabalhos de nomes como Adriana Falcão, Ziraldo e Ilan Brenman, deu os seus primeiros pontapés com muito sucesso no mercado editorial, universo no qual se vê mais atuante no futuro, conciliando os dois lados da moeda: a vida de escritora com a atividade profissional em comunicação. “Ambas me alegram e me instigam a produzir mais. Além disso, em um mundo com tantas transformações, nada melhor do que ampliar a interdisciplinaridade, descobrindo mais sobre diversos campos. E uma ajuda a outra, pois ambas buscam entender o humano e se comunicar com ele. Isso me encanta e me faz querer mais tanto da literatura quanto da comunicação”, destaca ela que, além de ler, naturalmente, curte pequenos hobbies cotidianos como passear, ir a shows e eventos e curtir com os amigos.
Para a publicitária e professora, que cresceu próxima de obras literárias, a nova carreira é apenas uma aproximação consigo mesma. “Cresci cercada por livros e pela literatura. Meu tio tinha uma grande biblioteca e meu imaginário é formado por essa memória de livros e de histórias. Os livros e as histórias são companheiros de viagem. Me sinto mais feliz perto deles”, diz ela que pontua dois livros em especial como aqueles que todos deveriam se dar de presente ou ler antes de morrer: “Cem Anos de Solidão” de Gabriel Garcia Marquez e “Grande Sertão Veredas” de Guimarães Rosa. Publicações cujos enredos mostram o inusitado círculo da existência do ser humano de forma poética, mas ainda assim realista e sem o ardor lúdico de romances trágicos ou românticos. É assim, inclusive, que a consultora que adotou o ofício da escrita vê os caminhos da vida, que a define com frase popular de importante poeta da nossa música popular brasileira: “Adoro aquele verso de Caetano Veloso, na música Vaca Profana: ‘Respeito muito minhas lágrimas, mas ainda mais minha risada’”, diz Izabela, que foi influenciada no amor pelas palavras pelo tio, o pai e a mãe. Já na trajetória profissional por granes nomes da publicidade. “Fui muito influenciada na carreira por Washington Olivetto e Nizan Guanaes, além do Celso Loducca, com quem tive o prazer de trabalhar em São Paulo e, em âmbito local, Italo Bianchi, Jairo Lima, Joca Souza Leão e Adriana Falcão, publicitária e escritora”.
* Matéria produzida pela jornalista Ivelise Buarque para a Revista Pronews, edição de Junho/ 2013, número 159.
