Saber aproveitar as oportunidades da vida foi uma grande lição que Edney Souza aprendeu com o tempo e que ajudou a moldar sua trajetória profissional. Um exemplo de empreendedorismo que explora as possibilidades da inovação desses “tempos modernos”. Este consultor de marketing (especializado em conteúdo, eventos e redes sociais) teve seu primeiro contato com a tecnologia em 1989, impactado por propaganda de cursos de computação na escola em que estudava. E isso o levou à primeira aula na área e, progressivamente, à atuação como programador. Formado em Processamento de Dados pela Universidade Mackenzie, com pós-graduação em Tecnologia da Informação Aplicada a Negócios pela FASP, Souza trabalhou em várias organizações até iniciar sua vida de empreendedor, aos 28 anos, ao abrir sua primeira empresa. Apesar de acreditar que o empreendedorismo lhe veio tarde, esta fagulha já existia desde a infância, mesmo com a criação em uma família simples, sem contato algum com o trabalho no marketing, na tecnologia ou no empreendedorismo. “Eu estava alugando minha bicicleta para os meninos na rua e meu pai veio reclamar que eu estava ‘explorando’ os garotos, além de desgastar minha bicicleta acima do esperado. Naquele momento, inclusive, ele detectou que precisaríamos ir para a bicicletaria para trocar alguns raios das rodas que quebraram. O conserto custou exatamente o que eu havia ganho e meu pai perguntou se eu tinha aprendido alguma lição. Pensei comigo ‘deveria ter cobrado mais, não deu nenhum lucro’, lembra ele, que gosta de contar esta história que acredita ter lhe incentivado a empreender.
Daí para a frente, Edney seguiu um caminho natural para se tornar um empreendedor renomado e uma das maiores referências do mercado. Professor de Redes Sociais na ESPM, FGV e ComSchool, assumiu responsabilidades que têm contribuído para a formação de um cenário profícuo e expansão de um setor de peso no país, através, por exemplo, das curadorias do setor de mídias sociais da Campus Party e da Social Media Week São Paulo, que organizou em 2009 e se consolidou como um dos maiores eventos de mídias sociais da América Latina.
Os rumos para empreender, a conjuntura do mercado e a visão para alcançar metas necessárias foram influenciadas em certa medida por muitos profissionais que passaram pela sua vida. “Os presidentes das últimas empresas que trabalhei como funcionário tiveram momentos que me fizeram refletir sobre meu futuro. Tive o privilégio de participar de uma reunião com Laércio Cosentino quando trabalhava na TOTVS (na época ainda era chamada de Microsiga) e vê-lo negociando foi inspirador. Na Divicom o presidente Antônio Carlos Braga um dia me perguntou se eu queria ser empreendedor ou executivo, naquela época eu ganhava uma remuneração extra com meu site e ele havia lido sobre mim em alguns jornais”, lembra.
Este último em particular foi responsável por uma mudança de perspectiva, neste caso: “Ele falou isso de coração. Não foi um papo ameaçador, mas foi algo que me ‘empurrou’ na direção de uma decisão. Foi quando eu larguei o emprego de gerente de sistemas para trabalhar com comunicação”. Então, em 2002, focou-se no InterNey.net, que começou como site pessoal em 1997, passando a ganhar algum dinheiro e a empreender de fato em 2004. “Eu abri empresa, comecei a emitir nota fiscal e tinha mais de uma fonte de renda. Em 1990 as pessoas nem entendiam o que você fazia quando dizia que trabalhava como programador ou com computadores. Porém muita coisa que fiz naquela época ainda é visto como inovação nos dias de hoje”, destaca. Naquela época, trabalhou num projeto que envolvia pequenos computadores portáteis (HP 100LX e HP 200LX), modem e impressora térmica, que formavam um kit para vendedores remotos de uma indústria de plásticos. Uma proposta para facilitar o trabalho no dia a dia com computador portátil que ainda hoje é tido como “inovação”, segundo ele, que considera esta uma solução já ultrapassada.
Pensando a frente, seu conceito do que é novo e do que pode ser criado para melhorar as perspectivas já conhecidas, o projeto pessoal não só conquistou reconhecimento máximo como o blog mais popular da internet brasileira (em 2006, 2007 e 2008), como deu o pontapé inicial para outra investida. Foi assim que fundou em 2006 o InterNey Blogs, primeira rede profissional de blogs do Brasil, que também se tornou uma referência na época, apesar do projeto ter sido descontinuado em 2013. “Eu já era programador quando acessei a internet pela primeira vez em meados de 1995, criar um site foi uma um ato de curiosidade para entender como era programar alguma coisa para a internet. Escrever era uma etapa necessária para ter algo publicado no site e conforme eu fui melhorando minha escrita e descobrindo truques para divulgar o site eu acabei me descobrindo um melhor profissional de marketing do que de tecnologia. Obviamente a experiência em tecnologia foi fundamental para ter destaque em marketing digital, acabou sendo um caminho natural onde pude usar minhas diferentes habilidades”, recorda.
Hoje, envolvido em vários negócios (seja como conselheiro, consultor ou apoiador), ele se aproveita deste mundo de diversas oportunidades, estabelecendo cada vez mais novas metas em que possa explorar diferentes habilidades e expandir várias possibilidades. “Estar tocando diversos projetos tem muita relação com minha hiperatividade do que com o cenário atual do empreendedorismo. Quem foi multitarefa sempre fez muitas coisas simultaneamente. A exigência maior da criatividade é para se destacar. Num mundo onde todo mundo pode vender online (e aí a internet e as mídias sociais entraram democratizando esse acesso) você perde um pouco da vantagem que tinha ao representar um produto ou serviço em uma praça específica. Hoje você precisa buscar uma maneira de se destacar e com todo mundo procurando inovar a gente encontra um cenário bem mais interessante”, comenta.
O clamor pelo novo – Longe dos estereótipos das gerações, o especialista Edney Souza reafirma que nunca é tarde para inovar. A democratização e as características próprias das novas tecnologias possibilitam a expansão das oportunidades de comunicação, de carreira e de empreendedorismo. São particularidades que transformam este um cenário fértil para todos que desejam desenvolver um negócio, agregando, inclusive, seus interesses pessoais. “O mundo hoje é digital, mais de 60% dos brasileiros já tem acesso a internet. Nos grandes centros esse número fica entre 80 e 90%, considerar o cenário digital no seu empreendimento é fundamental. A internet, os blogs e as redes sociais diminuíram a barreira de entrada de muitos negócios facilitando o acesso a comunicação e publicidade. Os e-commerces aumentaram o alcance dos negócios. Então vender um produto ou serviço é para muitas pessoas uma oportunidade que não existia antes do mundo digital”, enfatiza.
Contudo, há um fator essencial que deve ser levando em consideração nesta era do empreendedorismo digital e das redes sociais online, para se aproveitar tudo que se está à mão e alcançar bons resultados. “Além de estarmos vinculados a alguma mídia também estamos produzindo conteúdo. O conteúdo das empresas não concorre mais apenas com o conteúdo de outras empresas. Você concorre com a foto do filho de alguém, com a notificação de aniversário, com o vídeo que os amigos gravaram no churrasco, com o depoimento de um casal que se formou ou com o desabafo de um amigo que perdeu um ente querido”, destaca. E, neste caso, o especialista acha fundamental que os negócios que desejam se tornar relevantes tenham isso em evidência. “As marcas precisam melhorar a qualidade da produção de conteúdo. Não dá mais pra cumprir tabela na produção de conteúdo, se você não consegue fazer algo que se destaque é melhor gastar mais tempo fazendo promoção de produtos e atendendo os clientes do que produzir conteúdo que ninguém vai ler”, diz.
Dentro dessa perspectiva, os processos de trabalho das empresas estão em alta, afinal, todas perceberam que o fundamental é estar no meio em que o público se encontra. E seja qual fora ferramenta escolhida, todas estão nas mídias sociais digital. Um investimento que, apesar dos esforços, não está longe de falhas, seja no desenvolvimento do planejamento, monitoramento ou em outras etapas como até retargeting. “Ainda existem grandes agências trabalhando nas redes sociais sem planejamento, muitas fazem campanhas pontuais e essas campanhas recebem todo o cuidado necessário com o planejamento, mas raramente é feito um planejamento para definir a voz da empresa nas redes sociais. Você precisa de um projeto editorial que defina como será a produção de conteúdo nos canais que sua marca está presente. Falta não apenas monitoramento para acompanhar a repercussão do que se está fazendo, mas diagnóstico e planejamento para começar o trabalho de forma adequada”, comenta.
É inevitável pensar que as estratégias relacionadas ao marketing em mídias sociais tem que priorizar as etapas essenciais do trabalho e, naturalmente, é evidente que os processos transcorrem melhor mediante os investimentos adequados, que na maioria das vezes estão concentrados nos polos mais desenvolvimentos do país. Mas, as diferenças do mercado são definitivamente menores atualmente, em virtude da redução das distancias geográficas. “Hoje em dia como a maior parte das novidades de mercado são divulgadas na internet e os cursos podem ser feitos à distância nós temos uma aproximação muito maior do nível do mercado em diferentes cidades brasileiras. Ainda temos uma concentração de verba e grandes clientes no Sudeste mas não vemos mais um desnivelamento tão grande quanto no passado. Inclusive algumas empresas tem feito um movimento oposto: procurado profissionais em outras regiões do Brasil”, diz.
Este é um processo natural agora que traz a possibilidade para algumas pessoas com ótima formação e experiência, em sua opinião, deixarem grandes agências no eixo Sul-Sudeste onde trabalham, para voltarem para suas cidades de origem, muitas vezes, onde podem atender clientes a distância. “Aliás num mercado onde tudo pode ser feito via internet é meio estranho que as empresas ainda façam tanta questão do contato presencial. Obviamente o contato presencial é mais rico, há uma série de elementos na expressão corporal e na voz que não aparecem na comunicação escrita. Mas quando a entrega é apenas digital uma ligação de vídeo pode trazer boa parte dessa troca para o processo”, pondera. Para ele, o que limita esta tendência que vem crescendo pelo mundo são dois fatores: a banda larga disponível e a dificuldade de algumas corporações em contratar pessoas remotamente.
* Matéria perfil produzida pela jornalista Ivelise Buarque para a Revista Pronews, edição de Dezembro/ 2015, número 188
