
As mudanças que a internet trouxe ao marketing são inegáveis e crescem a cada dia transformando-se e adaptando-se progressivamente com o avanço das tecnologias, que agregam uma grande e nada nova tendência: o colaborativismo. Com isso temos a conectividade digital como a força motriz imprescindível para a produção de um negócio, desenvolvimento de ações de uma empresa e conhecimento profundo acerca de um segmento. E diante deste cenário todos se beneficiam de uma forma ou de outra e é essa é o maior diferencial do marketing colaborativo, um conceito em consonância com a ideia de que a união faz a força. “Pessoas diferentes se conectando para criar novas coisas aumentam os campos de possibilidade criativa, existem diversas plataformas que por meio de match making conectam pessoas em prol da criação de novas coisas”, destaca Fábio Silva, sócio-fundador da StartMeUp, plataforma colaborativa de investimento denominado equity crowdfunding. De fato, este processo colaborativo e compartilhado potencializa a geração de ideias, contribuindo para a expansão, inclusive, do novo movimento de empreendedorismo no país e no mundo. Uma prova disso é o crescimento, por exemplo, de 18,6% num período de seis meses no número de empresas em desenvolvimento, conforme levantamento no final do ano passado pela ABS (Associação Brasileia de Startups). Todo um novo ecossistema tem se favorecido dessa troca de experiências, conhecimento, serviços e produtos. “Antes do advento dos negócios colaborativos, analistas de marketing e estudiosos do setor trabalhavam com a máxima do 90-9-1: onde 90% dos usuários dos meios digitais aenas visualizava conteúdo, 9% interagia com aquele conteúdo e apenas 1% efetivamente contribuíma de alguma forma com conteúdos novos. Os modelos de negócio colaborativos baseados na moeda da “confiança” estão rapidamente quebrando esta regra. A tecnologia facilitou bastante a possibilidade de criar um conteúdo – seja ao classificar se gostou ou não de um produto na internet ou mesmo ao avaliar um motorista de taxi de uma corrida que acabou de fazer, todos deixam para trás uma pegada digital. Isso contribui muito para análises de comportamento e criação de novos serviços”, comenta Gianfranco Zuculoto, diretor da agência Fullbar Digital (SP).
Para o especialista, nesta Era da Co-criação temos um cenário em que o mundo inteiro se porta como uma sala de pesquisa qualitativa, na qual as opiniões vão desenvolvendo uma rede invencionista que possibilita a criação de novas alternativas e possibilidades para o mercado. Contudo, apesar do mar de oportunidades é necessário cuidado para não se afogar. “Hoje em dia, temos um movimento contrário para ajudar a geração de ideia e negócios: filtrar o vasto oceano de informações que podemos coletar a partir dessas plataformas, senão corremos o risco de não criar um novo produto ou serviço único”, completa Zuculoto. Afinal de contas, seja quais forem as motivações o crescimento acelerado deste senso colaborativo é reflexo antes de tudo de uma cultura relacionada a um perfil específico de utilizadores, conforme pesquisa da REDS, empresa da HSR Specialist Researchers. O público com maior adesão à economia colaborativa envolve pessoas entre 35 e 59 anos, em sua maioria homens e da classe A.

“Esta ação compartilhada se potencializa a partir de um briefing bem estruturado, de um processo de brain storming em que pessoas de diferentes áreas compartilham suas experiências de forma absolutamente criativa e livre. Onde cada um oferece seu conhecimento e especialização em torno de um projeto em comum, contribuindo de forma positiva para que as ideias sejam transformadas em projetos reais, com resultados muito positivos ara todos os envolvidos. Nas agências de comunicação e publicidade está presente quando, além das equipes internas são envolvidos parceiros e especialistas na criação de campanha e projetos”, pontua Silvia Celani, diretora da Mafer Comunicação (SP). E assim nascem grandes oportunidades e experiências em diversas áreas como a Hatsu, marca brasileira de armações desenvolvidas com tecnologia japonesa, criou a própria enciclopédia virtual – a Wiki Hatsu – que compartilha informações relacionadas ao universo da visão (daltonismo, miopia, lentes de contatos).
Com isso, possibilita-se que as apostas nos modelos de negócios ou em novos empreendimentos sejam pautadas em algo mais do que críticas, por exemplo. “Através de sugestões e críticas dos próprios consumidores, as empresas se aproximam mais do seu cliente, ouvindo suas histórias e experiências e acabam por poder elaborar melhor os serviços e produtos que são oferecidos. Busca-se assim satisfazer sempre seu público, visando vender mais, contudo, gerando valor e credibilidade com o consumidor, acima de tudo. E consequentemente isso faz com que ele propague positivamente sua marca. É um movimento frenético, pois hoje tudo é postado nas redes, o boca-a-boca que antes era só para amigos e pessoas próximas, virou público e tudo o que é falado tem que ser levado em conta”, diz Thailise Monteiro, consultora de marketing do Colégio e Curso SEI (RJ).
Esse movimento de co-criação nos dias de hoje cria assim um exército de pessoas produzindo conteúdo e gerando ideias de produtos e serviços, direta e indiretamente, para empresa e marcas que podem passar a fornecer soluções mais assertivas ao seu target. “Estamos engatinhando na co-criação, mas esse me parece o futuro pelo menos para a maior parte das empresas com baixo nível de inovação. As empresas ainda tem muito medo desta ideia. Minha sugestão é testar. Quem lá atrás fez seu primeiro website, pra experimentar, aprendeu muito antes da concorrência e hoje está a anos luz dela. Então, separar um projeto para testar o mundo colaborativo, ou a co-criação com clientes, é altamente aconselhável e benéfico. A empresa sinaliza sua sintonia com o mundo de hoje. Envolvendo funcionários, sinaliza seu real e verdadeiro comprometimento e respeito por seus colaboradores (e não aquelas frases de um poster na sala de recepção da empresa). O mesmo ocorre ao envolver clientes”, lembra a publicitária Beia Carvalho da 5 Years from Now e consultora do CEOlab.

Para a especialista em futurismo, a demonstração e o apreço real pelo cliente se reflete na aposta em um modelo de inovação que, mais cedo ou mais tarde, se converterá benefícios maiores para as empresas. A empresa referência em pesquisa Ipsos lançou recentemente o seu serviço de curadoria de dados, chamado Insight Cloud, voltada para profissionais de inteligência de mercado, de marketing e para agências de publicidade, que permite que clientes identifiquem assuntos “quentes”, compartilhem informações de forma fácil de visualizar e rapidamente, como em uma rede social. Essa ideia moderna comprova que o que pode parecer apenas um jogo de azar, ou de mero erros e acertos, poderá gerar ainda mais frutos em um futuro próximo.
“Costumo dizer que as pessoas são motivadas pelo ‘desejo de ganhar’ e pelo ‘medo de perder’. Dito isso, enxergo o ‘sucesso’ da colaboração, muitas vezes, apenas pelo incentivo do ganho. As marcas oferecem algo e os consumidores aceitam colaborar em troca (aqui não incluímos os fãs, que colaboram por pura paixão pelas marcas). Sou colaboradora do TripAdvisor porque ganho pontos que troco por passagens áreas. Essa é a minha motivação para colaborar. Em paralelo, a mídia digital reconfigurou a comunicação entre pessoas e produtos, adotando um modelo que dá a todos a oportunidade de falar, assim como de escutar. Muitos falam com muitos. Recomendam, comentam, reclamam. Essa geração de ideias, portanto, é alicerçada por uma série de fatores contemporâneos e não só o convite para a colaboração. Ou seja, o que está em questão não é a criação de ações isoladas em dado momento com objetivos de divulgação da marca, conquista de novas fatias de mercado, ou simplesmente o aumento de vendas porque os consumidores começam a ser co-criadores”, enfatiza a professora Karla Patriota da UFPE. No mundo da colaboração, não se brinca de “seu mestre mandou”.
* Matéria produzida pela jornalista Ivelise Buarque para a Revista Pronews, edição de Outubro/ 2016, número 197
