
Em sua opinião, um bom exemplo dessa diferenciação são as influências apontadas por diversos estudos de um maior consumo de produtos voltados à terceira idade, que se baseiam em fatos reais e demográficos, que necessariamente acarretam mudanças no comportamento de consumo. “Hoje, no Japão, se vende mais fralda para adultos (geriátrica) do que para crianças. Assim, chamamos de tendência a possibilidade de se observar na sociedade movimentos populacionais ou comportamentais que resultem em uma mudança estrutural mais consolidada e perene. Já a moda é um conceito também real de consumo, mas que tem uma duração de tempo mais curta, e que é embasada por motivações menos enraizadas na sociedade”, enfatiza Garcia.
Para o diretor do IBOPE Inteligência, é fácil avaliar essa distinção tomando-se como base o setor de confecção, o de telefonia celular. É importante considerarmos antes de tudo as distinções do que de fato é uma inclinação permanente e do que é moda passageira, pois, em uma avaliação geral, acredita-se que é possível identificar uma média de 132 mil tendências, segundo McCracken. E desta forma o que acredita ser mudanças é apenas movimentos voláteis que surgem e desaparecem, podendo retornar novamente e impactam o consumo em todos os níveis sociais, que passaram a consumir mais nos últimos anos, de acordo com Maurício.
“Desde sua grande difusão até hoje, apontava-se que a tendência era um telefone cada vez menor. Isso durou até um determinado limite. Nos últimos anos, a tendência é de um telefone cada vez maior. O que ocasionou essa mudança? Uma série de fatores. Nesse sentido, olhando para trás, esses movimentos poderiam ter sido chamados de moda, mas como seu enraizamento social foi bastante profundo, podemos tomar a liberdade de chamar ambos os movimentos (aliás, contraditórios) de tendências durante um período. Mas isso é uma questão conceitual”, destaca. Isto, segundo ele, mostra que o que determina o que se integra em um conceito e ao outro é um conjunto de fatores e de características de comportamentos que fazem com que esses dois movimentos distintos sejam recorrentes, amplos, pontuais e impactantes para um grupo, a comunidade e o mundo.
Neste caso, torna-se impossível distinguir o que realmente influencia de fato e o que é apenas modismo? Não. Estudos indicam que as empresas encontram um cenário influenciado por diversos elementos, como, por exemplo, a valorização da qualidade de vida, o consumo precoce e o aumento do poder de consumo das classes de baixa renda e o envelhecimento populacional. Eles se tornaram indicadores aos quais devemos nos manter atentos, e estão até registrados na pesquisa de 2010 da Macroplan – Prospectiva Estratégia e Gestão: “Mudanças no Perfil do Consumo no Brasil: Principais Tendências nos Próximos 20 Anos”.
“Nos últimos anos, o mercado de consumo cresceu muito na América Latina criando mais opções de consumo/ mercado. Se antes apenas existiam produtos caros (para ricos) e baratos (para consumidores de baixa renda), foram criadas novas alternativas (no meio) para consumidores que desejavam produtos com mais qualidade, tinham mais dinheiro pra pagar, mas não eram consumidores ‘ricos’. A emergência da classe media latino-americana estimulou que o mercado se diversificasse, oferecendo mais opções de compra (mais variedade) e produtos e serviços mais convenientes, que oferecem mais flexibilidade. Por exemplo, o consumidor pode comprar apenas uma parte não tudo, pode mudar a data do hotel, etc”, diz Luciana Stein, pesquisadora de tendências e Lead Strategist para a América do Sul & Central (SP).
A partir da nova visão de poder que o cliente passou a ter, vemos, por exemplo, uma crescente demanda de produtos customizados, de serviços personalizados e de distinções antes de tudo de modelos de trabalhos, de vestuário, de gastronomia e de tantos outros diferenciais que o mercado de consumo pode oferecer. E, por isso, considera que novos grupos de consumidores levam em consideração diversos valores como a quantidade e a qualidade de experiências acumuladas e vividas. Assim, estão mais impactados com novos símbolos de status hoje como ter comportamentos sustentáveis, ser criativo, ser empreendedor, por exemplo, e que não dependem tanto de dinheiro. “É o que a trendwatching.com chama de POST-DEMOGRAPHIC CONSUMERISM. Há hoje um consumo que ultrapassa as categorias demográficas, e as marcas tem de se soltar dessas categorias para inovar”. E, desta forma, é importante pensar sobre as novas classes dentro das classes (os nichos de consumidores aparentemente pequenos, mas influentes).
“O cliente, primeiramente, busca atender suas necessidades básicas de consumo. Porém uma forte tendência para os próximos anos é o envolvimento com o mundo digital, o que continuará estimulando o consumo de bens tecnológicos”, diz Roberta Correia, gerente de desenvolvimento territorial RMR e Mata Norte do Sebrae/PE. Ela considera que a ascensão econômica das Classes C e D influenciaram o mercado interno que se encontra bastante aquecido, nos últimos anos, e o que fez com que a ficha caísse em outros quesitos importantes atualmente. Com isso, temos o investimento em qualidade de vida que não é um modismo e sim uma tendência, assim como cuidar do corpo e da mente são uma forma de equilibrar a sobrecarga de informações e multitarefas cotidianas: “Neste sentido, a população está cada vez mais consciente e são tendências de mercado de consumo de produtos e serviços ligados à saúde e bem estar, sócio e ambientalmente responsáveis”, lembra.
Em sua opinião, a quantidade de informações disponíveis sobre o que é bom e do que não é bom para o nosso planeta, favorece o engajamento da população no que tange à busca de comportamentos e padrões de consumo. Daí, as posturas mais responsáveis se destacam nos novos padrões de comportamento que trazem novas oportunidades de negócio. “Saudabilidade, sustentabilidade e responsabilidade social definitivamente não são moda. Não são sequer novas tendências. São novos cenários, universos que vieram para ficar. As marcas podem alinhar suas praticas a eles, nesse momento, e vender esse alinhamento como se fosse um ‘diferencial’ do seu negócio (já que nem todo mundo pratica esses novos conceitos, habita esses universos). Ou as marcas podem esperar até que esses novos cenários se transformem em lei. Ou seja, se você é uma marca, se posicione agora”, enfatiza Luciana Stein.
* Matéria sobre comportamento e tendência do consumo, produzida pela jornalista Ivelise Buarque para a Revista Pronews, edição de Fevereiro/ 2015, número 178

