
Para a especialista, antes de qualquer coisa, a mudança será na verdade no posicionamento dos profissionais e das empresas de marketing e de comunicação diante desta nova classe média e de cada um desses estratos sociais que terão que ser encarados de forma mais adequada. “As marcas e suas agências tem um mundo novo a descobrir. Novos estratos foram definidos, e agora é preciso entendê-los um a um em questões importantes como hábitos de consumo das mais diversas categorias, preferência por marcas, hábitos e formas de comprar, entre muitos outros temas. Cada marca deverá rever o peso que cada estrato passa a ter dentro de seu negócio. A partir daí serão direcionadas pesquisas para verificar possíveis necessidades de adequação a estes novos grupos. Vai estudar conhecimento de marca, preferências, consumo de produtos, serviços e mídia, comportamento de compra e tudo o que sempre se estudou, mas agora para entender estratos que foram agrupados segundo novos critérios. Isso, com certeza, vai trazer descobertas”, diz Nappo.
Desta forma, cresce cada vez mais a responsabilidade das marcas e das empresas diante deste novo olhar sobre a população brasileira. Uma vez conhecendo melhor e precisamente suas necessidades e anseios, será mais fácil e assertivo atendê-los melhor. “Por ter uma maior diversidade de produtos/serviços fazendo mais do mesmo, o consumidor está mais antenado e criterioso. Com isto, o modelo de se fazer Publicidade já não é mais o mesmo. Isso é óbvio. As marcas precisam cada vez mais ‘falar’ com seu público. E a agência deve cada vez mais aproximar-se. E vejo na transmídia o melhor caminho. O impacto já está aí. O mercado publicitário acordou e agora as agências já têm seu núcleo digital, outras foram abertas só nesse eixo e o consumidor também começou a ofertar o seu produto/serviço de maneira informal pelas redes sociais e isso interfere diretamente na então hegemonia”, na opinião de Alfredo Galamba, diretor de conteúdo e relações institucionais da ExpoLAB – Escola de Economia Criativa (PE).
Ele acredita que as mídias sociais trazem e servem como ferramentas de análise e diagnósticos, além das tradicionais já utilizadas. O poder e consciência do cidadão é um detalhe importante a ser considerado quando olhamos sob o ponto de vista macro. O consumidor brasileiro está mais maduro, o seu grau de exigência é maior agora e as empresas devem considerar isto. A comunicação adequada e a estratégia certa acabam sendo o composto perfeito para impactar o target e o mais importante, fidelizá-lo. Mas, para isto, há de atender as demandas que vão além do fator necessidade de consumo. “A palavra chave é ‘Relevância’. As empresas que não conseguirem atuar nesse mercado, cada vez mais competitivo e com consumidores cada vez mais exigentes, perderão sua relevância e, consequentemente, deixarão de existir. E, para isso, a informação sobre o consumidor é vital para esse processo. Então, acho que o que muda é que as empresas deixam a posição de ‘dona da verdade’ e passam a observar o consumidor e a entender cada vez mais as suas particularidades, que vão muito além do valor que ele tem disponível”, pensa o administrador Diego Jaques, coordenador do curso de Marketing da Faculdade dos Guararapes (PE).
Para ele, a relevância se torna um fator fundamental, pois os hábitos dos brasileiros que estão mudando devido ao acesso à educação e internet, que o aproximam à mais informações, alterando sua postura em relação ao meio que estão inseridos. Isto influencia o comportamento da população, interfere na visão desta estratificação e, consequentemente, na postura das empresas, especialmente as de comunicação. “O relacionamento entre esses três pilares: Empresa, Agência e Consumidor tende a ser cada vez mais íntimo e duradouro. Pois a empresa poderá desenvolver produtos mais específicos para o perfil do consumidor que quer atingir. As agências de posse de informações mais minuciosas do perfil do consumidor poderão desenvolver uma comunicação muito mais eficiente e eficaz. E, por fim, a experiência com a marca será muito mais proveitosa para o cliente, pois ele terá a sensação de que aquela marca de fato consegue entendê-lo”, na opinião de Jaques.
E para o mercado o impacto real desta mudança deverá ser positivo, para ele, que acredita que o aumento de informação sobre o consumidor irá melhorar a comunicação e os produtos. E, definitivamente, uma arma favorável para atingir este propósito serão as ferramentas de pesquisa, e quanto mais e diferenciadas melhor. “Há diversos tipos de pesquisas sendo desenvolvidas, que vão desde estudos para dimensionar o potencial do mercado consumidor das comunidades – que antigamente eram conhecidas como favelas – até pesquisas no campo do neuromarketing, onde se estudam os estímulos de marketing, que mais são aceitas por nosso cérebro”, ressalta Diego.
* Parte de matéria de capa sobre Estratificação Social, produzida pela jornalista Ivelise Buarque para a Revista Pronews, edição de Fevereiro/ 2014, número 166.

