
Cearense de berço mas pernambucana de coração, Ludmilla Veloso leva uma vida quase itinerante e que talvez siga a risca uma das citações mais icônicas do seu filme predileto, Waking Life (USA, 2001): “Your life is yours to create”, que é um conceito muito pertinente ao seu dia a dia. Afinal, o que pode ser mais expressivos do que as opções desta profissional, formada em economia com especialização em tradução, que se tornou uma das primeiras analistas em SEO (Otimização para buscadores)do Recife, e hoje é diretora de conteúdo da Naranya Market Brasil e sócia-fundadora da NOgap Ventures (Portugal). “Acho que grande parte da minha vida mais nômade se deve a minha infância. Como minha mãe é funcionária pública, até os 6 anos de idade tinha morado já em 4 cidades. Nasci em Fortaleza, aos 3 meses, fui pra Recife, depois Petrolina e Caruaru e voltei pra Recife aos 6 anos”, lembra ela, que optou pela carreira inicial por influencia do avô que a motivava a seguir uma carreira diplomática.Comandando atualmente este novo empreendimento em Portugal, que ainda está em fase de abertura, Veloso busca levar ideias brasileiras para o outro lado do Atlântico e manter os centros de suas ações na área que abraçou há anos. “Eu sempre gostei de tecnologia, fazia blogs quando era adolescente e sempre me mantinha informada. Mas, na FAFIRE, tive a oportunidade de realmente trabalhar com isso. E foi na cara e na coragem, não tinha um planejamento digital feito para o Núcleo de Línguas e eu fui lá e fiz e me meti, mesmo. E graças a minha coordenadora na época e ao pessoal de comunicação que deixou eu me meter, deu muito certo. Fiz um monte de testes e aos 26, já com uma carreira um pouco mais definida, decidi voltar a ser estagiária da área digital, como analista de SEO, na CAPPEN. E o mais engraçado, minha chefe tinha 19 anos”, diz ela que teve oportunidade de atuar como gestora da campanha de matrículas do Núcleo de Línguas da FAFIRE, antes de trabalhar na CAPPEN.
Minha primeira escolha profissional, a faculdade de economia, deveu-se à influência do meu avô Em Recife, não tinha ainda o curso de diplomacia. O que me rendeu algumas habilidades interessantes, falo 4 línguas: inglês, espanhol, alemão e óbvio português, arrisco até dizer, que depois da temporada em Portugal, até português de Portugal também, o pá!
Sua trajetória na área é extensa, inclusive, com destaque ativo como empreendedora tendo fundado ainda a Freeck Digital Marketing e atuado na Associação Brasileira de Startups. Essa interação com tantas coisas diferentes, mas com uma certa interligação em alguns aspectos é uma das características de sua inquietação profissional, sua própria persona e do cenário de mercado. “Foi sempre muito orgânico, que foi acontecendo e eu estava disposta a esses desafios na época. Acho que tem uma combinação da minha personalidade e do mercado ser rápido e as ideias nascerem e morrerem com muita facilidade. Esse é o mercado do fail fast, ou seja, falhar logo e recriar, não é um mercado focado em longo prazo em termos de produto, é criar, testar, falhar, recriar, testar, falhar e isso pode levar anos, até haver sucesso”, assume.
Não é a toa que a profissional vem se destacando no cenário não só nordestino como ainda nacional. E o mais importante é que ela encarou desde o princípios seus desafios com toda a garra necessária para empreender ainda em um universo desconhecido numa época de muitas transformações. “Na época que eu comecei o mais difícil era vender o serviço, que era muito novo para o nordeste e ainda no Brasil era algo novo. Ainda hoje não faz parte da estratégia de algumas empresas”, recorda ela, que superou ainda as barreiras do Clube dos Bolinhas: “Não senti barreira profissional na área de marketing digital, estávamos todos construindo e não senti muito esse preconceito. No entanto, na área de startups, principalmente, em Recife, há preconceito e as mulheres tem dificuldade de participar nos espaços, principalmente, como colocou recentemente uma grande amiga, que atua na área de empreendedorismo feminino, a Deb Xavier, por conta de que muitos dos eventos e workshops e o que envolve esse universo não foi conceituado para mulheres”.comenta.
Talvez a facilidade para enveredar com destreza neste universo venha da preparação para seguir uma carreira na diplomacia, inclusive com o domínio de três línguas além do português (inglês, espanhol e alemão). E suas habilidades diversas são importantes para empreender no mundo digital, assim como experiências variadas fazem toda a diferença no mercado atual, em sua opinião. “Eu acredito muito na criatividade brasileira. Ainda acho que veremos grandes coisas sendo realizadas. No momento ainda estamos copiando mais que criando. Mas eu acredito na real possibilidade de crescimento. O grande problema é a quantidade de impostos e a dificuldade de empreender no país. O perigo é justamente as pessoas começarem a pensar e acreditar que a melhor coisa é imigrar, aí teremos uma fuga de cérebros muito séria. Para termos mais chances de sucesso é realmente aquela de sempre: educação e se capacitar cada vez mais. Empreendedor tem que se virar nos 30, em qualquer situação e logo mais”, destaca.
E neste cenário que está a nossa transformação empresarial com uma fatia de idealizadores que buscam inventar o seu próprio trabalho dentro do que chamamos de economia digital, que é a mais barata. Uma forma de produção e de realização que vai ser cada vez mais normal, viável e econômica para o país e para quem quiser apostar em sua capacidade criativa para empreender. “Já que não existe um alto custo de estoque, você não precisa de um escritório e não precisa contratar pessoas, tudo é possível com um computador e uma conexão e as suas ideias”, diz Ludmilla que mantém a inquietude como característica e a “Arte da Guerra” como referência. Neste universo peculiar estão as startups no Brasil hoje, que se congregam em um cenário real de expandir no país. ”A economia agora é cada vez mais a economia do conhecimento e das ideias. Eu acredito na total inclusão de pessoas dos mais variados backgrounds e experiências e não é nem por idealismo político nem nada, é apenas por lógica cartesiana biológica mesmo, aquela coisa da evolução das espécies, quanto mais diversidade tem o sistema, mais anticorpos vai ter e mais bem sucedida vai ser a sua replicação”, completa.
Exercer diariamente faceta empreendedora é, contudo, essencial para o sucesso no mundo dos negócios e em um processo de gestão, pois o aprendizado diário e através de exemplos reais se tornam imprescindíveis para a concretizar qualquer coisa. E essa experiência é mais do que fundamental na gestão de negócio no meio online, em que é preciso manter meios próprios para atingir metas, alcançar audiência e crescer junto ao público. “Na questão da gestão, eu acredito sempre que deve se manter a operação enxuta. Só contratar quando não houver mais nenhuma capacidade ociosa dos sócios e ter as atribuições e papéis dos sócios muito bem definidos. Quanto a meios para crescimento, cada negócio terá suas particularidades. Mas se é online dificilmente você vai conseguir fugir de fazer aquisição orgânica (SEO, ASO, Assessoria de imprensa, redes sociais, blogs, conteúdo, e-mail marketing, newsletter) e aquisição paga (Adwords, Downloads patrocinados, mídia em geral)”, enfatiza.
Em sua opinião, as premissas de um negócio sempre são as mesmas qualquer que seja situação, afinal, é crucial validar o produto, testar, falhar, testar, falhar e manter a cabeça aberta para iterações, até alcançar o sucesso neste mundo globalizado e tecnológico. Isso independe de estarmos vivendo em meio à inovações e plataformas multimídias que estão sendo um grande desafio para muitos profissionais, marcas e empresas. “Não acho que dá para fazer médias e parâmetros e receitas com produtos/serviços, já que são muito variados e os públicos alvos também são bem diversos”, acredita. Desta forma, para que os profissionais contribuam efetivamente nos resultados dos projetos e no processo de aproximação das marcas com o público e as organizações têm que discutir tanto conteúdo, relevância e sustentabilidade das coisas e na vida das pessoas, nesta época de transformação.

“Para se aproximar mais dos meios tecnológicos e ter algo mais relevante sendo feito pelas marcas, é necessário entender a jornada do cliente e cada vez realmente entender que o cliente não tem razão e que muitas vezes as pessoas realmente não sabem o que querem. As pessoas compram soluções para os seus problemas, não produtos/serviços. Acho que partir daí já faz com que qualquer marca/empresa/profissional consiga ter um diferencial interessante”, destaca a especialista, que é referência em estratégias particularmente nas técnicas de potencializar e melhorar o posicionamento de motores de busca em sites (SEO). Hoje, o peso deste mercado para App Stores está inclusive crescimento e podem gerar bons resultados para os negócios. “SEO é extremamente importante para posicionamento de apps nas lojas, principalmente para Google. O mercado mobile está em aquecimento e ainda está no início. Em muitos lugares já se tem mais celulares que pessoas”, opina.
O Brasil é realmente um país com potencial para usar a abusar – e com sucesso – do potencial desta era digital, apresentando bons trabalhos nas mais diversas frentes, desde as startups, empresas de marketing digital, webcelebridades nas mais variadas mídias (Blogs, Vlogs, Twitter, Facebook e Instagram). “Cada dia acho que estamos ficando melhor. Temos muito bons profissionais de conteúdo, SEO, blogueiros e vlogueiros. As webcelebridades fazem parte da estratégia. Eu acho que ainda tem muito espaço para crescer, mas minha experiência, principalmente agora, trabalhando mais perto do mercado latino americano (sou diretora de conteúdo do Naranya Market Brasil, uma empresa mexicana com atuação em 17 países na América Latina) é de que nós somos bons, e há real interesse de se criar bons conteúdos”, reforça que se define através das palavras de Fernando Pessoa: “O êxito está em ter êxito, e não em ter condições de êxito”.
* Matéria produzida pela jornalista Ivelise Buarque para a Revista Pronews, edição de Janeiro/ 2016, número 189
