Em agosto do ano passado, o Sebrae e a Associação Brasileira da Produção de Obras Audiovisuais (Apro) uniram forças numa mesma missão: capacitar pequenos produtores para o proeminente mercado audiovisual brasileiro da atualidade, através de projetos que contam com investimentos na ordem de R$ 4 milhões para capacitar, a serem desenvolvidos até setembro próximo. A perspectiva é beneficiar 300 empresas do setor das cerca de seis mil cadastradas hoje na Agência Nacional do Cinema (Ancine). E não é a toa. Estamos falando de uma rede de negócios que envolvem, em especial, as produtoras independentes que chegaram a captar aproximadamente R$ 1,7 bilhão, de 2001 a 2012, via mecanismos federais de incentivo, de acordo com a instituição de regulação.
“O mercado brasileiro acompanha o crescimento do mercado audiovisual do mundo inteiro. Com a regulamentação estabelecida pela Ancine nos últimos quatro anos, mais produtoras menores, pequenas e independentes, ganham espaço porque a lei estabelece que o conteúdo não deve ser só produzido dentro das emissoras, mas sim e prioritariamente por produtores independentes. Isso fomenta a indústria de uma maneira muito animadora”, diz Marcelo Barreto, sócio-diretor do Ateliê Produções (PE). Como podemos observar este é realmente um cenário de sucesso para realizadores, em que marcas estão aliadas ao processo, com o aporte de prestadores de diversos serviços (em especial de todas as áreas da comunicação) e naturalmente agências de propaganda envolvidas diretamente no resultado final.
Caminhando cada vez mais para um cenário real e frutífero, as parcerias não são só o novo salto para o desenvolvimento dos projetos audiovisuais, é importante que o meio se tornou peça fundamental, o que significa que o produto tem que ser pensado hoje especialmente de maneira multiplataforma. “Eu acho que o mercado audiovisual brasileiro vive um grande momento porque ele se espalhou por várias telas. Vinte anos atrás ele era formado por televisão e cinema, basicamente. Hoje ele está no celular, no tablet, computador, desktop e até no relógio. Esse mercado é uma ferramenta potente de transmissão de conhecimento, basta ver a quantidade de vídeo-aula disponível. O mercado é muito grande e o público consumidor, cada vez maior”, destaca Barreto.
E isto significa muito quando fazemos um levantamento do cenário produtivo de hoje e um comparativo com os meios online, em especial, em todo o mundo. E com isto vemos um novo movimento acontecer que pode ser beneficiado pelas marcas e aproveitado por elas, enquanto estratégia de imagem. As experiências recentes do Porta dos Fundos e em especial do “Eu não quero voltar sozinho”/ “Hoje Eu quero voltar sozinho” reforçam o que muitos especialistas já detectaram e andam apontando em encontros diversos: a flexibilidade é a chave agora, e muitas outras produções estão provando isso em toda rede global, sem sombra de dúvidas. “Hoje se percebe uma quebra de formatos e de mídias, onde o conteúdo passa a ser mais valorizado do que o espaço em que ele é veiculado. Por falar nisso, o que se diz sobre ‘custo de veiculação’ faz do ambiente da web uma alternativa viável para a vazão de conteúdos que não teriam espaço nas Tvs. Conteúdos humorísticos ou de informação de nicho muito específico ganham na web um espaço de custo relativamente mais baixo, mas que possibilitam a construção de um público crescente”, acredita Diego Rocha, coordenador do curso de Comunicação Social da UNINASSAU (PE).
E dentro desse cenário temos um segmento em especial que devemos olhar com outros olhos, o do mercado de webseries, que já é uma realidade concretizada fora do país, em especial no mercado norte-americano, canadense e australiano, mesmo que por meio do crowdfunding (“Ghost Ghirls”, “Pursuit of Sexiness”, “Burning Love” e “Emma Approved”). Por isto este meio tem conquistado adeptos aqui no país e pode ser considerada uma nova e forte realidade para a nossa seara criativa, como em algumas produções já listadas entre os sucessos da rede: 3%, Lado Nix, Botolovers, Armadilha e 2012 – Onda Zero. Um caso especial é o “Latitudes” do diretor Felipe Braga, encabeçado pelos atores Daniel de Oliveira e Alice Braga, que saiu da web para a Tv como um filme dividido em oito episódios e que trouxe um mar de possibilidades no conceito transmídia. O projeto, apresentado pela Procter & Gamble e com o apoio ainda da FIAT e Heineken, é levado ao ar na emissora TNT em um formato razoavelmente diferente do que é veiculado no canal oficial Latitudes Filme (youtube.com/latitudesfilme), por exemplo. E mais recentemente temos “Precisamos Conversar” do diretor Marcos Castro, que estreou no canal GShow, no final de janeiro, com o humorista Marcos Castro e a atriz Luciana D’Aulizio, que aborda os conflitos da vida de casado de uma forma bem divertida.
Sendo assim, essas experiências comprovam que os profissionais e empresas a atuar neste setor não precisam só ter o perfil exigido pelo mercado, mas atualmente é essencial estar capacitados e aptos para reconhecer, identificar e se diferenciar, desenvolvendo produtos audiovisuais de qualidade, mais criativos e, como na referência do Latitude, multiplataforma. Isto se torna um requisito básico num mercado que conta com mais de 3.451 empresas atuando com produções de cinema, vídeos e programas para televisão, registradas na Ancine. “Há um volume financeiro crescente migrando de veículos tradicionais (Tv, rádio) para as novas plataformas de distribuição, exibição de informação, conteúdos (internet)”, comenta Samantha Ribeiro de Oliveira da gerência de aquisições nacionais da EBC/TV Brasil (RJ).
Então, acompanhar o crescimento deste setor talvez seja a questão chave, pois o mercado é uma ferramenta potente de transmissão de conhecimento e detém hoje um grande público consumidor. “Todos produzem, mas a grande diferença está no custo para se produzir e na facilidade da produção. A criação é feita nos modelos tradicionais, agências ou freelancer, e algumas são produzidas internamente. Muitas empresas ainda não trabalham com esse modelo digital, e existe um pouco de receio por alguns empresários mais tradicionais. No entanto, o mercado vem mudando e precisamos de cases para que isso se concretize. Uma das empresas que investe nisso é o próprio Google através do YouTube. E a empresa usa um dos atores do canal ‘Parafernalha’, e faz divulgação do próprio YouTube”, destaca Thiago Santos do Marketing do Elo Milhas (PE).
Mas, segundo o especialista da Elo Milhas, é preciso ter cautela, pois o comportamento do público ainda é desconhecido mesmo que muitos estejam fugindo das emissoras abertas e apostando nas redes abertas, ou crescendo em views na web. “A internet, em especial o YouTube, é um território de extremos. Possui as produções mais baratas e ao mesmo tempo grandes audiências. É comum que um vídeo do canal Porta dos Fundos ultrapasse 3 milhões de visualizações, sendo que o filme nacional mais assistido de 2014 não chegou a 2 milhões de pessoas. Por ser gratuita e em formatos curtos, as obras feitas para internet são acessíveis e tornam-se uma opção atrativa para as marcas”, também acredita o especialista Fernando Palacios da Storytellers Brand ‘n’ Fiction (SP).
Percebemos que o caminho não é mais tão longo e o canal de comunicação com o público e as marcas está mais acessível através das series e curtas que podem se integrar de várias formas possíveis com vários espectadores e entre si. Mas, o segredo do sucesso talvez seja ter um grau de diversidade na forma de contar histórias e de conquistar o espectador. E, contudo, por outro lado, o desafio agora é mostrar para as empresas essas novas possibilidades de alcançar este formador de opinião e consumidor.
* Matéria produzida pela jornalista Ivelise Buarque para a Revista Pronews, edição de Abril/ 2015, número 180
