
Descobrindo sempre algo novo, deparo-me com uma nova realidade que nada na contramão da crise, apesar das dificuldades inerentes ao conceito de “empreendedorismo” e à necessidade de atuar com uma moeda super nova, a ideia. Afinal, o Brasil está aprendendo impulsionar cada vez mais seus negócios em vários segmentos de mercado, contudo, mais de 50% das empresas fundadas no país encerram suas atividades em até quatro anos. E dentro desse contexto um novo cenário tem surgido e tem trazido novas possibilidades e oportunidades para uma fatia específicas através do “Empreendedorismo Cultural”.
Considerado o gerenciamento de empresas culturais, este novo movimento empresarial trabalha com o delicado capital humano e o que sua emoção produz, unindo sensibilidade à economia criativa e conquistando espaço no país. “É a transformação de companhias de teatro, circo, dança, bandas de música, artistas plásticos em empreendimentos gerenciados no formato de empresas, buscando mercado, fornecedores e preços competitivos. Na minha palestra mostro que hoje o mercado exige mais que um grande artista, ele exige um grande administrador, ou uma equipe que faça isso junto ao artista, de nada adianta ter talento sem cumprir critérios de qualidade, sem saber transformar isso em resultados positivos no âmbito financeiro para que seu negócio tenha sustentabilidade”, diz o consultor José Lucas Mendes de Barros da Super Soluções, instrutor do Sebrae Petrolina.
O contexto do empreendedorismo, contudo, é delicado uma vez que os incentivos disponibilizados pelo governo são poucos, os impostos são altíssimos e o fomento ao empreendedorismo cultural no Brasil é irrisório. Embora diversos dos motivos pelos quais a maioria dos envolvido se queixa do seu insucesso no mercado brasileiro, o empreendedorismo cultural é uma discussão essencial diante da conjuntura atual, pois é um novo mercado em prospecção no Brasil que se aproveita de todo o potencial e criatividade de artistas e artesãos, de várias formas. “Hoje o mercado exige mais que um grande artista, ele exige um grande administrador, ou uma equipe que faça isso junto ao artista, de nada adianta ter talento sem cumprir critérios de qualidade, sem saber transformar isso em resultados positivos no âmbito financeiro para que seu negócio tenha sustentabilidade”, destaca Barros.

Gerar as oportunidades de repasse de informações para incrementar uma cadeia produtiva, possibilita abrir uma brecha para impactar diretamente e de forma assertiva essa nova economia, que está vinculada ao mercado das ideias, que registra receita anual de R$ 110 bilhões no Brasil. E estimular o conceito de que é possível ampliar atuação de mercado através da cultural com foco no empreendedorismo se torna relevante e fundamental, nos dias de hoje. E, para entender melhor tudo isso, instigamos essa entrevista com o consultor, que segue abaixo:
O que é o “Empreendedorismo Cultural” e que representa comercialmente, falando?
José Lucas Mendes de Barros – Comercialmente falando: A cultura e a arte, além de manifestações de talento e criatividade, são hoje importantes atividades econômicas, que produzem qualificações, criam e exploram novos espaços sociais, promovem reurbanização e induzem o desenvolvimento de outras atividades. O conjunto das atividades culturais conquistou espaço no mundo dos negócios e é denominada de indústria da criatividade. Um exemplo do que estou falando são as bandas de forrós, elas se adequam as tendências musicais, buscam inovar, buscam ferramentas adequadas de marketing, nos bastidores existe a gestão das finanças, de pessoas, entre outras ferramentas que são necessárias para se manterem no mercado. O empreendedor cultural precisa tornar o seu talento em um produto/serviço que seja comercialmente viável e coloca-lo no mercado. É preciso ficar atento as tendências do mercado, definir público alvo, ter propostas interessantes que atraiam o público, buscar adequar os produtos e/ou serviços as necessidades dos clientes, ter preços competitivos. O artista precisa inserir no contexto a visão de negócio, precisa ser um artista empreendedor.
Como empreender lançando mão da cultura a seu dispor?
José Lucas Mendes de Barros – Como mencionado anteriormente a manifestação cultural induz o desenvolvimento de outras atividades, quando se investem em cultura investe-se na economia. A cultura participa direta ou indiretamente do resultado de diversos outros negócios. Ao promover um evento em uma cidade a economia local acaba sendo aquecida naquele momento, pois há uma movimentação financeira nos restaurantes, lanchonetes, comércio de roupas, hotéis, em fim vários setores da economia local. Imagina o que é possível acontecer na investimento em politicas públicas que fomente projetos empreendedores de índole cultural. Grandes países europeus possuem entidades que estimulam a criação de incubadoras de indústrias criativas, no norte de Portugal existem fundações que contemplam a ambição de ver concretizado um cluster de indústrias criativas.
Existe alguma interligação do “Empreendedorismo Cultural” com o conceito que já é conhecido por Economia Criativa?
José Lucas Mendes de Barros – O empreendedorismo cultural está inserido na economia criativa, esta é formada pelas indústrias criativas que abrangem as mais diversas atividades econômicas relacionadas a produção e distribuição de bens e serviços que utilizam a criatividade e as habilidades dos indivíduos ou grupos como insumos primários.

Em seu ponto de vista, como podemos expandir o “Empreendedorismo” dentro dessa perspectiva Cultural em um mundo globalizado e pautado pelas tecnologias?
José Lucas Mendes de Barros – Sim, a expansão é possível. Mas é necessário criar politicas eficientes que fomentem o empreendedorismo cultural e desenvolva as indústrias criativas para promoção do desenvolvimento econômico e social do nosso país. Ainda hoje, a visão tradicional dos profissionais que atuam na área de arte e cultura considera que sua atividade é governada por princípios diferentes daqueles da economia de mercado e a adoção de métodos adotados pelas empresas significa a perda da identidade de seu projeto artístico-cultural.
Gestão de negócios é uma das coisas mais difíceis no Brasil contemporâneo, pois nós brasileiros não fomos educados para empreender, para alguns especialistas. Diante deste pensamento, empreender na área cultural que engloba universos tão distintos (da cultura popular até as artes modernas) é algo fácil com todas as facilidades a mão? Ou na verdade temos um cenário de maiores desafios a serem ultrapassados, que vão além das concorrências e outras dificuldades (como obter capital de giro, linhas de crédito, etc) para monta, manter e ampliar negócios?
José Lucas Mendes de Barros – No Brasil, as dificuldades e os riscos associados aos empreendimentos culturais fizeram com que as organizações ou grupos de artistas se habituassem à prática de garantir antecipadamente a cobertura de seus custos de produção por meio de recursos públicos diretos ou de patrocínios incentivados. Com isso, pouca importância tem sido atribuída ao desenvolvimento de competências necessárias para gerir o empreendimento de um modo que gere um fluxo de receitas constante e autônomo, visando sustentação no médio e longo prazos. No Brasil há instituições de ensino que enfatizam capacitações para desenvolvimento de projetos voltados para obtenção de recursos públicos ou patrocínios incentivados. Mas o orçamento público é limitado e isso acaba impactando na nossa produção cultural nacional. O SEBRAE vem desenvolvendo projetos nos últimos anos para fomentar o empreendedorismo cultural e auxilia os empreendedores a visualizar sua arte como negócio.
Como está essa questão do empreendedorismo na região? E no que diz respeito ao “Empreendedorismo Cultural”? A quantidade de pessoas da região com acesso a informações facilita o instituto empreendedor ou a criação de atividades agregadoras diferenciadas, nos dias de hoje?
José Lucas Mendes de Barros – O trabalho criativo e a geração de valor da cadeia produtiva não estão concentrados em grandes empresas, mas dispersos em uma rede diversificada de profissionais e micro-empresas especializadas nas diversas atividades dos processos de criação, produção e distribuição de conteúdos criativos. Portanto, as organizações culturais não apresentam estruturas hierarquizadas, mas sua dinâmica se apoia na formação de redes. Os produtos culturais têm dupla natureza: além de seu caráter econômico, são portadores de valor simbólico e conteúdo estético, o que introduz uma relação diferente com o mercado. É preciso desenvolver mais projetos e eventos similares a Feira para estimular o empreendedorismo cultural, ampliar as fronteiras de aprendizado, desenvolver um pensamento inovador e sólido focado na concepção, análise, planejamento de projetos, que alcance argumentos de gestão para tirar do papel empreendimentos culturais e criativos, aliando eficiência e sustentabilidade.
