
No universo do crowdfunding, por exemplo, os booktrailers se tornaram uma das melhores formas de conquista do financiamento coletivo, segundo o coordenador de Comunicação e Imprensa do Catarse (RJ), Felipe Caruso. “Literatura é a 3ª categoria que mais tem projetos no ar no Catarse: são 20. Como o vídeo é obrigatório, os autores acabam fazendo teasers dos seus livros. A editora Realejo, por exemplo, já fez quatro projetos e o que está no ar agora tem bem essa pegada de trailer: http://catarse.me/pt/nada”, destaca. E é assim que a ferramenta vai se ganhando força e não é a toa, pois ela consegue integrar duas paixões lúdicas: a literatura e o audiovisual do cinema.
Contudo, esta ferramenta já está se popularizando em outras áreas, em especial o do mercado literário. “É sensível que um booktrailer possa criar uma atmosfera tangível para o argumento do livro. A literatura exige mais abstração que outras mídias, às vezes, é difícil criar o clima e contexto da história com base em sinopses e críticas especializadas, o que torna a escolha do livro sempre uma loteria para o leitor. Com o booktrailer desenvolvido de forma adequada, fica fácil para o consumidor descobrir afinidades com a história e se a mesma é de seu gosto”, diz Rômulo Veiga, sócio-fundador da produtora ParaRaio Filmes (RJ). Na hora de fazer o trailer, deve se ater a algumas dicas importante na hora da produção como, por exemplo: o visual, a informação (concisa e direta) e sincronia e equilíbrio de todos os elementos (imagens, frases, música). Mas, apesar de muitos acreditarem que vale tudo para mostrar o que se escreveu de forma dinâmica e visualmente atrativa. Vale algumas ressalvas.
“É bom tomar cuidado para não desenhar demais ambientações, ou personificar personagens com atores, para não tirarmos do livro a liberdade que nossa mente tem em criar feições, cenários e o contexto do argumento. Outro ponto que deve se ter atenção é em não iludir o leitor; criar um clima que não será encontrado na história com intenções comerciais pode ser um tiro no pé”, enfatiza. Para Veiga, por melhor que uma história possa parecer ela sempre terá como filtro a expectativa que se cria entorno dela. “Quem já não se surpreendeu com um livro do qual não se esperava nada, ou o contrário, se decepcionou com uma história que foi tão alardeada que criou-se expectativas impossíveis de atender”, comenta ele, que acredita que exagerar no clima implica muito em descredibilizar o formato e assim as pessoas passaram a desconfiar deles se não tiverem sincronia com as dimensões da história que retrata.
Vendo antes de ler – Mas, sem sombra de dúvidas, este é um recurso que movimentar o mercado e despertar principalmente nos jovens o interesse à leitura. “A partir de algo que se pretende divulgar, lançamos mão dos teasers como ferramenta moderna, inovadora e objetiva que busca gerar um clima enigmático, que é o grande diferencial. O cinema já lança mão desta estratégia para divulgar os filmes, e agora o mercado editorial está adaptando-o aos materiais impressos”, comenta Luciana Boschi, diretora da Dom Graphein Consultoria (RJ). No site da empresa (www.domgraphein.com), já foram incluídos estes pequenos filmes para divulgar eventos e conseguiram aproximar a metodologia e o espaço de trabalho, num curto espaço de tempo, ao público. “Com o mundo cada vez mais dinâmico, as pessoas buscam informações rápidas e resumidas sobre algo que elas vão ler ou assistir, para poder decidir. Com o papel de apresentar frases de efeito e motivar o leitor, os teasers trazem, além da inovação na forma de comunicação, uma degustação sobre o assunto a ser apresentado”, lembra Luciana, que também se prepara para usar esta técnica na divulgação dos seus três livros.

“Pretendo usar o booktrailer, pois acredito que a internet hoje está completamente inserida em nossas vidas e as informações vêm on time. Os custos podem, por vezes, ser mais altos, mas a penetração e propagação é bem maior e isso aumenta muito o custo X benefício na utilização da ferramenta”, ressalta. E por conta disto a maior parte da produção nacional é feita a partir da leitura de trechos do livro (pelo autor ou não, com imagens neutras ou que reafirmam o conteúdo lido) porque esbarra na questão econômica, no orçamento dos trailers. “Os book trailers ainda são trabalhados a partir do desenvolvimento de um roteiro e, hoje ainda de produção caseira. Com custos de produção muito baixos. Hoje a tecnologia a ‘custo zero’, leva, qualquer um a fazer qualquer coisa. Neste caso, por enquanto, eles implicam em redução de custos de produção, apesar de podermos considerar a produção boa, mas ainda do tipo ‘caseira’”, para Vanise de Barros Mellaci, designer e professora de comunicação.
Apesar desses recursos trazerem muitas possibilidades e novas oportunidades ainda não em formato profissional para o mercado de produção audiovisual, ela acredita que os book trailers ainda trarão muito pano para manga. “Em longo prazo, a linguagem do vídeo pode aproximar públicos que se afastaram da leitura impressa e aplicados da forma adequada. Podemos esperar com certeza melhor qualidade de conteúdo como de produção. Precisamos de um amadurecimento do mercado, que se dará oportunamente. Mas, no momento o problema talvez seja levar quem responde pela comunicação (e resultados) de uma multinacional, a valorizar o trabalho, e considerá-lo de importância tanto de conteúdo como de produção, direcionando verba para o mesmo”, reforça Mellaci.
* Matéria sobre Marketing Literário, produzida pela jornalista Ivelise Buarque para a Revista Pronews, edição de Maio/ 2014, número 169.
