
No mundo da leitura, existe ainda muito o que se plantar, e o cenário demonstra que apesar do crescimento da inovação, o setor não está morrendo em definitivo. Uma nova ferramenta tem contribuído como estratégia de marketing para aproximar o público consumidor deste mercado. Ainda de forma muito embrionária, os books trailers apresentam um formato com as mesmas dinâmicas da publicidade em geral e fornece um novo estímulo à compra ao potencial consumidor, na opinião do publicitário Márcio Martinelli, Sócio-diretor da Bluebox. “O booktrailer não visa a redução de custo e sim o aumento do número de leitores da publicação. Pode ter uma produção mais luxuosa ou mais econômica. A ideia e a criatividade devem prevalecer em detrimento do valor do investimento. Mas não acredito que uma produtora possa sustentar-se somente com a produção desse formato”, analisa.
Na opinião dele, a ideia é tão propensa a desdobramentos que o uso dos booktrailers pode possibilitar inclusive a criação de link com um e-commerce para otimizar a venda de livros, em especial para um público de maior potencial, que é o jovem e estudantes, que geralmente são os maiores usuários de internet e com maior propensão ao consumo de produtos e serviços tecnológicos. E isto traz um novo olhar sobre o processo de compra e venda, contudo, deve ser avaliado com cuidado, afinal, não se sabe o que vem por aí. “Ainda é muito cedo para avaliar o impacto dos booktrailers sobre a produção editorial em geral, mas acredito que a venda de livros será impactada positivamente em médio prazo. A questão principal a ser enfrentada diz respeito aos veículos de comunicação que mais se adequam ao novo formato. Nesse sentido, o YouTube merece destaque como um meio bem interessante. Basta digitar booktrailer no YouTube para obter uma lista bem razoável de opções”, reforça.
Por isto, esta ferramenta agora leva muitas vezes na experimentação de linguagens, formatos, e com isto surge um novo mundo admirável do comércio literário. “Acredito que trazer uma linguagem bem sucedida no cinema possa surtir o mesmo efeito quando se fala em literatura. Quantos de nós vamos assistir a um filme e já saímos do cinema programando voltar para ver ao menos dois ou três filmes só por conta do impacto causado pela exibição do trailer? Acho que o mesmo pode ocorrer no caso dos livros, até por ser uma ferramenta nova, isso pode despertar mais interesse ou curiosidade ao futuro leitor”, diz Alexandre Crispi, macro educador e CEO do Grupo Educacional Alub (grupo educacional do Distrito Federal).
Para ele, qualquer investimento se torna fundamental para possibilitar o incremento do setor, que segundo estudos anda em baixa. Recentemente, foi divulgada uma pesquisa, mostrando que o brasileiro está lendo menos, passou de 55% para 50% da população. “A redução da leitura foi medida até entre crianças e adolescentes, que leem por dever escolar. Ou seja, aí está um grande problema, pois se mesmo quem tem a obrigação de ler não está fazendo isso, algo precisa ser feito para trazer esse estudante o mais próximo possível da leitura. O book trailer pode ser um suporte nesse sentido”, comenta ele que frisa que, para isto, o professor precisa saber utilizar a ferramenta para poder incentivar seus alunos não só à leitura de livros indicados na escola ou não, aumentando assim o número de leitores no país.

Para as empresas, os booktrailers trazem diversos diferenciais como a promoção fora das livrarias e ocupando vários canais, permitindo assim o contato direto com uma enorme massa de leitores, a um custo muito mais baixo do que o de banners ou anúncios. E isto, com certeza, aumentará com o tempo suas possibilidades. “Devemos esperar no futuro mais proximidade com os leitores e de outras mídias, levando a uma mudança futura do formato do livro digital, que deverá incorporar novas técnicas de produção e se tornar um produto multimídia”, comenta Henrique Farinha, CEO da Editora Évora, para quem este recurso deve ser sempre um bom teaser, abaixo de cinco minutos de duração, partindo de uma boa ideia do enredo e com custo de produção compatível com o investimento no livro.
“Os booktrailers devem ser teasers para despertar a curiosidade e a expectativa dos leitores. Não são obras cinematográficas, embora tenhamos cuidados nas produções e até cheguemos a um nível de cinema, como nos casos do “A Página Perdida de Camões”, da série “Apocalipse Zumbi” (o volume 1 tem mais de 43 mil acessos) ou mesmo do “Diário de um Exorcista”, que já tem cerca de 574 mil acessos no YouTube. O foco é claramente promocional e é assim que deve ser visto”, diz Farinha, que explica que a proposta ainda envolve um processo de divulgação específico. “Eles são enviados às livrarias e distribuidores para publicação nos respectivos sites, além de usarmos intensamente as mídias sociais para que possamos chegar diretamente aos leitores”, destaca ele que lembra que o marketing de massa estava fora do radar dos editores, focando-se antigamente em televisão, outdoors, busdoors, anúncios em jornais e revistas. Formato “fora das possibilidades da esmagadora maioria dos orçamentos. Agora, pode-se atingir um público grande sem que esse gasto seja exorbitante”.
Um custo e recurso que está disponível hoje apenas das principais editoras que possuem livros de literatura e paradidático. “Dependendo do livro, dá para fazer um bom trabalho. Primeiramente montamos um roteiro apresentando os principais destaques do livro como se fosse a resenha narrada. Antigamente a produção era desenvolvida em flash, hoje já existem muitos recursos, principalmente para utilização em HTML5. Na FTD, os boktraillers são desenvolvidos por web designers, responsáveis também pelo site. A divulgação é feita no site da FTD, youtube e redes sociais., ao lado da propaganda do livro, onde o cliente pode clicar num botão para assisti-lo”, diz Daniela Silveira Lima do marketing e eventos da Editora FTD (SP).
Para ela, os retornos e possibilidades agregadas aos booktrailers dependerá da ação, mas poderá dá um bom retorno, inclusive, em função da estratégia de divulgação. E acreditando que o investimento no novo é essencial, a editoria abriu uma área específica. Neste caso, o de Inovação e Novas Mídias, com desenvolvimento de soluções educacionais, incluindo jogos, infográficos, simuladores, entre outros. “Se o livro for produzido adequadamente, com certeza será um sucesso na venda. É bem diferente você escolher um livro pela resenha e capa, e assistir um booktrailler, onde da para inclusive dar movimento (vida) aos personagens. Em pesquisa na internet, muitas editoras estão conseguindo dar destaque em obras que quase não eram vistas ou vendidas nas livrarias, devido só ter o livro versão impressa. É uma comunicação muito agradável de visualizar. A impressão que tenho, é como se estivéssemos assistindo um trailer de um filme, onde aguça a curiosidade pelo produto”, comenta.
Este novo mar de oportunidades e possibilidades à mão do mercado de comunicação e literário surgiu definitivamente com o boom da nova geração de ficção, mais especificamente a do Harry Potter, para Luiz Antonio Barros do Nascimento, conhecido como Lucien o Bibliotecário, administrador do blog Leitor Cabuloso. “No começo, os booktrailers eram grandes slides. Tinham cerca de um minuto, porém só possuíam texto e imagens estáticas (geralmente da capa do livro). À medida que o mercado foi se expandindo, houve uma sofisticação, pois as editoras perceberam que muito mais do que leitores, os livros eram vendidos para verdadeiros fãs que aguardavam o lançamento do livro (e seu booktrailer consequentemente) com a mesma expectativa que aguardam a estreia do filme da sua franquia favorita”, destaca.
Naturalmente, o formato teve que mudar para conquistar a geração Harry Potter, que necessita de outros estímulos para se sentir seduzida a comprar aquele livro que a editora tenta lhe vender. “As editoras perceberam que havia um novo público a quem deveriam dar atenção. É um público que caminha por várias mídias em um único dia, por isso o booktrailer é um destaque como nova forma de publicidade para um novo público. Elas entendem que hoje ele ocupa os espaços virtuais muito mais do que os espaços físicos, a ponto de mesmo estando em um espaço físico, não deixa de estar ‘conectado’”, diz ele que lembra que este é o reflexo de uma mudança no geral do mercado editorial, que passou inclusive a investir em capas muito mais atraentes e diagramação mais cuidadosa. “E o booktrailer pode ser facilmente divulgado em vários suportes diferentes: comerciais televisivos, rádio (se pensarmos no conteúdo narrado) e youtube. Este por sinal é muito utilizado pelos blogueiros literários quando anunciam em seus blogs os lançamentos dos livros. Além de revelar a capa, hoje é comum vermos escrito no final ‘assista ao booktrailer’”, frisa.
* Trecho de matéria sobre Marketing Literário, produzida pela jornalista Ivelise Buarque para a Revista Pronews, edição de Maio/ 2014, número 169.
