Uma grande característica neste movimento é o processo de produção mais autoral e, mais do que isto, a forma como se interage com a produção em si no ato do consumo. Isto é uma marca deste movimento, que têm a contribuição das incubadoras como um grande incentivo para o seu desenvolvimento. “Estão sendo criadas estruturas facilitadoras. São aceleradores de ideias, incubadoras, pólos de empreendimentos compartilhados. Essas estruturas tem objetivo de levar as ideias ao mercado sem grandes obstáculos. As profissões já existem há muito tempo, o que temos e vemos são novas atribuições e uma valorização de posições que eram antes vistas como secundárias. É o caso dos articuladores, dos gestores e analistas de pequenos negócios que não eram reconhecidos como essenciais aos processos, a própria profissão de design gráfico era muito pouco reconhecida. Vale salientar que este reconhecimento se traduz em forma de salário, os salários da indústria criativa são quase três vezes maior que os salários em outros segmentos, enquanto o rendimento mensal médio do trabalhador brasileiro era de R$ 1.733 em 2011, o dos profissionais criativos chegou a R$ 4.693, quase três vezes superior ao patamar nacional”, destaca Adolfo Menezes Melito, presidente do Conselho de Criatividade e Inovação da FECOMERCIO-SP.
Nesta linha vários mercados estão se aproveitando de forma positiva desta onda criativa e não poderia ficar de fora aquela que mais mexe hoje com a cultura do consumidor: a moda. “Existem aspectos principais: Um é aproveitamento de ideias criativas para gerar novos empreendimentos, principalmente na área de micro e pequenas empresas; dois é a libertação da ‘haute couture’ da figura da estilista unicamente criativa e baseada no artesanal. Isso na moda. Existe uma revisão do processo de criação, desenvolvimento e a produção do produto; e três é que a economia criativa envolve mercado, por isso, envolve necessariamente lucro, e então se passa dos modelos centrados exclusivamente na criatividade para um sistema de produção que envolve novas figuras profissionais e com uma estreita relação com o consumidor”, comenta Ilse Guimarães, curadora na categoria de ideia do Movimento Hot Spot.
No caráter comercial, diversos exemplos mostram que é importante apostar nesta oportunidade de mexer com a economia, com o comportamento da sociedade e com os modelos tradicionais. Elas estão associadas aos países onde ela se originou primeiramente e onde foram se desenvolvendo com maior expressividade. “Temos vários exemplos de economia criativa. Buscapé é um deles, porque construiu um ecossistema de informações para compradores online (agora também offline) que geram muita audiência. O modelo de negócios do Buscapé não é diferente, nesse aspecto, do Google ou do Facebook. Um produto com diferencial intangível a partir dos atributos do ‘modo de ser brasileiro’ é, como todos sabem, ‘Havaianas’; Embraer não é inovadora porque usa tecnologia de ponta. É inovadora porque construiu a empresa auscultando todos os grandes compradores internacionais de aeronaves– por isso os seus produtos são tão bem recebidos; Natura foi estratégica no posicionamento de produtos aspiracionais de maior valor agregado do que a AVON e soube construir a marca através do desejo de oferecer ao consumidor BEM ESTAR / ESTAR BEM; Boo Box, um modelo de publicidade dirigida mídia social via Internet, que atinge 80 milhões de targets por mês, criado pelo brasileiro Marco Gomes, é inovador porque focou a audiência de milhões de Blogs; há também reconhecimento da qualidade de iniciativas brasileiras na área de comércio eletrônico como NetShoes e Dafiti, a primeira pela qualidade e diversidade de oferta, pela tecnologia impecável do sistema e pela atenção especial ao Branding e a segunda pelo sucesso na comercialização de roupas pela Internet – não serviu, devolve. Tem ainda as empresas que inovaram no Brasil para atender consumidores na base da pirâmide, como Sorridents, Beleza Natural e General Brands. E o famoso caso das Casas Bahia, a primeira a estabelecer o vínculo de fidelidade com a baixa renda”, destaca Melito.

Fidelidade e respeito do consumidor se tornam armas para que a economia criativa tenha o impacto que apresenta hoje. Isto porque este novo movimento está ajudando a fazer com que as marcas e empresas caiam nas graças do público. E nada mais e nada menos porque uma vez que a ideia o conquista, a relação se concretiza e permanece por muito tempo. “O conceito de rede social, que há pouco tempo parecia ser uma febre de momento ou uma forma de comunicação para grupos restritos de pessoa, transformou o hábito de como os jovens ( principalmente), mas a população em geral se comunica. Desde discussões sobre a moda, locais onde comprar, locais a serem visitados e chegando em um outro extremo, como expressar suas convicções, sejam elas de natureza política, social ou econômica. Antes vozes silentes, que não sabiam onde ou como se manifestarem, têm nas redes o instrumento para, além de pontuarem suas opiniões, encontrar eco junto com outras pessoas. O Facebook com mais de 500 milhões de usuários (sejam eles ativos ou não) está longe de ser algo que possa ser ignorado. Quanto antes as empresas perceberem o impacto e a mudança que, não apenas, as redes sociais, mas a tecnologia que está à disposição do público, influencia e modifica os hábitos, mais rápido se darão conta da enorme relevância que as tecnologias emergentes têm na orientação dos seus negócios futuros”, diz Marcos Sakamoto, o presidente da Assespro-SP (Associação das Empresas de Tecnologia da Informação do Estado de São Paulo).
Esta nova ordem econômica e profissional já carrega consigo muito casos de sucesso, e não é de hoje, afinal, a geração de ideias sempre despontou na história, especialmente nas últimas cinco décadas que têm se mostrados as mais frutíferas para a sociedade moderna. Entretanto, é necessário tomar determinados cuidados. “Esse movimento é um movimento de descentralização, é uma democratização da participação dos pequenos, o que precisa ser feito, particularmente por parte do governo, é criar estruturas de manifestação que fortaleça essa tendência de descentralização. Caso contrário poderemos ter no futuro um setor muito concentrado onde só as grandes empresas atuarão. Esse é o risco que se corre, o risco existe mas, ao meu ver, ele é baixo. As manifestações artísticas e intelectuais não conhecem fronteiras e ocorrem livremente por toda parte independente de se ter uma estrutura organizada ou não. A organização do setor tem a intenção de tornar isso mais forte e fazer com que as pessoas criativas tenham os retornos e o reconhecimento que merecem”, comenta Menezes.
E, naturalmente, apesar da economia criativa focar a imaginação, inovação e ainda englobar novos englobando processos, modelos de negócios e modelos de gestão, ainda há muito o que fazer. “O maior investimento que deve ser feito na economia criativa é a educação de qualidade. É um longo caminho a ser trilhado. Como esse modelo persegue a criação de valor a partir do conhecimento e do mundo das ideias, temos aqui um recurso inesgotável. A proposta de enriquecer cada vez mais a experiência do consumidor age nas organizações no sentido de estimular o motor da inovação. Chegou ao fim da era das organizações que se apaixonam pela tecnologia. O foco agora é a experiência do consumidor”, enfatiza Melito.
* Parte da matéria de capa sobre “Economia Criativa” produzida pela jornalista Ivelise Buarque para a Revista Pronews, edição de Junho/ 2013, número 159.
