O renomado autor brasileiro Paulo Coelho, que já foi repórter na juventude, abraçou a carreira de escritor dando vazão a esta grande paixão pelas letras, pela redação, pela possibilidade de emitir e propagar para tantos suas ideias. Esta relação com a arte de escrever não é de hoje. Muitos foram aqueles que se destacaram neste universo, grandes nomes da comunicação que ao longo do tempo que se renderam à escrita e se tornaram mais do que referências para a nossa literatura, como Machado de Assis, Mário Quintana, Nelson Rodrigues, Fernando Sabino, Paulo Francis e Carlos Heitor Cony. Além da paixão, temos uma nova frente neste setor, a questão comercial, que está agregada aos dias de hoje a este mercado.
De acordo com a pesquisa Produção e Vendas do Setor Editorial Brasileiro de 2011, atualmente o mercado editorial brasileiro está produzindo mais, alcançando uma margem de 4,8 bilhões de reais e de 438 milhões de exemplares comercializados em 2011 e, aproximadamente, 8,23 bilhões em 2012, o que representa um incremento de 14,5% em relação ano passado. “Os números mostram que estamos avançando nesse processo. Segundo a última edição da pesquisa FIPE ‘Produção e Vendas do Setor Editorial Brasileiro’, as editoras brasileiras comercializaram aproximadamente 469,5 milhões de livros em 2011, estabelecendo um novo recorde de vendas para o setor. O número é 7,2% superior ao registrado em 2010, quando cerca de 438 milhões de exemplares foram comercializados. Do ponto de vista do faturamento, o resultado também foi positivo, e atingiu a casa dos R$ 4,837 bilhões – um crescimento de 7,36% sobre o ano anterior, o que, se descontada a inflação de 6,5% pelo IPCA do período, corresponde a um aumento real de 0,81%. O melhor é que o preço médio do livro recuou 6,11% nas vendas das editoras ao mercado, numa queda acumulada de 21,8% desde 2004. Descontada a inflação, significa decréscimo real no preço médio do livro de 44,9% no período 2004-2011”, de acordo com Karine Pansa, empresária do setor editorial e presidente da Câmara Brasileira do Livro (CBL).
Um dos fatores que tem contribuído para este bom saldo do segmento é o fato do mercado editorial caminha de mãos dadas com o marketing. E neste imenso mar de possibilidades está o profissional de comunicação, que vem se inserido novamente neste setor nomes de destaque e grandes sucessos para o futuro da “literatura”. E as editoras brasileiras apostam no potencial destes profissionais para alcançarem o público e estabelecerem novos recordes de vendas. E nesta leva estão novos destaques que já são bem conhecidos pelo público: Caco Barcellos da Tv Globo, Eliane Brum, escritora e colunista da revista Época e Heródoto Barbeiro, âncora do Jornal da Record News. Mas neste cenário há um lugar ao sol a todos, afinal, antes de um negócio, esta é uma paixão muitas vezes trazida da infância. “Minha paixão pela escrita vem desde pequeno, com a leitura de toda a saga do Sítio do Pica-Pau Amarelo e da série Vaga-Lume da Editora Ática, quando me interessei pela literatura fantástica e, consequentemente, por Mitologia e História. Estes caminhos me levaram a dois lados paralelos: o da Comunicação através da Publicidade, profissão que exerço há mais de oito anos; e o do RPG, hobby que ajudou a me aprofundar ainda mais nos assuntos mais diversos para as sessões de jogo e que jogo e produzo conteúdo desde os 11 anos de idade”, lembra Henrique Santos, coordenador de planejamento da agência Rae,MP (SP).
Ele passou a integrar em 2007 um projeto coletivo de fórum da Daemon Editora, com um trabalho na forma de e-book gratuito sobre mitos do fim do mundo e campanhas com personagens superpoderosos, que virou o livro físico “Trevas: Campanha Épica”, em 2011. Agora, investe em novo projeto, na forma de RPG, com previsão ainda para este 2013, confiante de que está apostando numa realização pessoal uma vez que a produção de conteúdo para o mercado editorial é uma forma de continuar lidando com meus interesses de leitura e escrita e ainda colaborando para a disseminação deste incrível hobby. “O mercado editorial recebeu um boom na última década com obras literárias que vão desde a fantasia medieval dos derivados do sucesso do Senhor dos Anéis, passando pela literatura fantástica infantil de Harry Potter e Percy Jackson, a trilogia Millenium de suspense e investigação e até o erotismo dos 50 Tons de Cinza e suas continuações. Isso tudo isso consta nas livrarias, mas ainda existem as crônicas e microcontos espalhados pela Internet, de onde este aparente internauta inculto retira suas leituras – como geralmente são obras gratuitas, é difícil quantificar este crescimento na leitura, mas lojas virtuais e aplicativos como a Amazon e o Kobo (da Livraria Cultura) permitem a verificação do crescimento incrível do e-commerce de e-books”, destaca ele, para quem os comunicadores encontram no mercado editorial um ambiente de possibilidade.

Os profissionais contribuem para ampliação do conhecimento dos leitores dos universos que pesquisam, desvendam e passam a conhecer no cotidiano. E ainda têm a possibilidade de conciliar técnicas diferenciadas à teoria peculiar no meio acadêmico, que, neste caso, ganha uma narrativa literária própria, com seu humor, sua vivência e suas reflexões particulares sobre os diferentes âmbitos de suas vidas. “Eu vivo da comunicação e me ‘alimento’ da escrita. Divido o meu tempo entre o meu trabalho profissional e os eventos literários. Sou um autor de ficção. Escrevo sobre o ser humano e sobre as nossas tendências sociais e de relacionamento, sempre complicadas (e fascinantes). Publicar é o caminho”, comenta Sidney Nicéias da Sidney Nicéas Comunicação Integrada (PE).
O profissional, que mantém em paralelo as atividades de uma empresa de comunicação integrada, tem três livros publicados: O Que Importa é o Caminho (2004); O Rei, a Sombra e a Máscara (2010); e A Grande Ilusão (2012), que estará na Feira Literária de Frankfurt, em outubro próximo. Para ele, que começou com publicações independentes, cuidando de todo o projeto de publicação, há uma realidade mercadológica que não pode ser ignorada, mas o amor em escrever sempre estará acima de toda e qualquer questão. “É interessante perceber que existem muitos profissionais da área publicando, seja com trabalhos técnicos ou ficcionais (o meu caso). Acho uma tendência natural para um segmento que está habituado a se expressar através da escrita e da criatividade. E esse mercado nada mais é que uma extensão disso. As estratégias são em consonância com os objetivos da editora, focada em autores nacionais. E tudo passa pela constante participação em eventos literários e lançamentos de novas obras. Tenho viajado bastante. No dia-a-dia tento conciliar a produção mental nessas duas vertentes. Às vezes é desgastante, mas eu adoro”, pontua.
* Matéria produzida pela jornalista Ivelise Buarque para a Revista Pronews, edição de Maio/ 2013, número 158.
