“Sair do armário” não é nada fácil, mas é sim possível com mais tranquilidade falar, se expressar e discutir tudo o que se deseja com quem entende e tem experiência própria. Talvez essa seja a principal faceta do Põe na Roda (http://youtube.com/CanalPoeNaRoda), canal de humor e informação que debate diversas questões de interesse e do universo LGBTTTs (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais, Transgêneros e Simpatizantes). “O nome Põe Na Roda veio na minha cabeça e achei que tinha a ver em ambos os sentidos com a proposta do canal: é engraçado, coloca um assunto a ser debatido que normalmente não se fala (‘colocamos ele na roda’), e ainda serve como trocadilho não tão politicamente correto”, diz o idealizador Pedro Henrique Mendes Castilho, chamado Pedro Hmc.Este vlog divertido e democrático teve como um dos momentos que ajudou a despontá-lo o vídeo “Não é por ser gay que eu…”, que contabiliza quase dois milhões de visualizações. Com muita descontração e sem frescura, esta produção em particular trabalhou em cima dos conceitos estereotipados sobre o que se conhece ou se acha ser real a respeito deste público: gostar de Madonna ou Lady Gaga, fazer coreografias, falar expressões como “aloca” ou “arrasa”, que não pode ver uma pessoa do mesmo sexo sem dar cima, e por aí vai. Criado pelo roteirista Pedro Henrique e integrado pelo radialista Nelson Carneiro (conhecido como Nelson Sheep) e o fotógrafo Felipe Abe, o canal já produziu e postou assim cerca de 100 vídeos que chegam para desmistificar alguns preconceitos e abrir um diálogo aberto sobre questões das mais complexas até as mais simples.
Com duas atualizações semanais (normalmente todas as quartas e eventualmente aos domingos), o Põe na Roda aborda assuntos como homofobia, casamento gay, HIV, religião, dar pinta, identidade de gênero e gaydar, além de discutir novas ideias ou costumes do comportamento contemporâneo que são mais difíceis de entender como Goy ou Bromance. E com este modelo acumulou em dois anos mais de 350 mil seguidores. “Quando criei o canal, escrevi umas ideias e saí gravando, não queria que fosse um vlog, mas mais um canal de entretenimento e conteúdo com vários programas diferentes e mostrando sempre várias pessoas, chamei doi amigos para integrar o projeto e me ajudarem, o Nelson e depois o Felipe. Conheci o Nelson em uma gravação do programa CQC (matéria Cura Gay com a Dani Calabresa) que roteirizei, um ano antes do canal. O Felipe conheci porque precisava de um estúdio pra gravar o vídeo “Água”, e um amigo que gravou o “Não é por ser gay” indicou ele, que por ser fotógrafo, tinha um estúdio, onde poderíamos gravar”, destaca Castilho.

Naturalmente, o ponto em que o projeto chegou tem muita a ver com a relação dos membros com o mundo online, proporcionando o crescimento da ideia inicial ao seu patamar atual. “O Nelson já tinha bastante experiência pelo site que ele tem, o Superpride, há mais de 10 anos. Eu tive um site bem popular de Spice Girls, quando era adolescente, e sempre fui bastante presente online em sites e redes sociais. O Felipe acho que era mais quietinho”, comenta. Contudo, apesar do contato com a internet como meio de comunicação e da sacada da ideia, não foi tão fácil assim pensar e estruturar o conceito e a proposta: “Antes de lançar o canal, lembro que encontrei o Nelson e perguntei meio constrangido ‘Põe Na Roda.. o que você acha?’. Ele adorou, e desde então não tivemos dúvidas”.
Aí, foi se dando naturalmente a aproximação casa vez maior com este mundo online, e mais especificamente com a vlogosfera naturalmente.
“O contato com Youtubers sempre foi respeitoso, admiramos o trabalho de muita gente que estava aí muito antes de nós, e já convidamos alguns a participar, como PC Siqueira, Kéfera, Jacaré Banguela, Luba”, diz Pedro. Não é a toa que a escolha da internet como ferramenta para desenvolver um projeto como o Põe na Roda foi motivada pelas oportunidades de expandir a proposta de comunicação, de ideias e discussões com um meio multiplataforma. E, de fato, brincar entre si em frente as câmeras ou colocar algumas estrelas da mídia, ou dos bastidores de fofocas do mundo e do país em cena, também se tornou outra sacada diferenciada do Põe na Roda. “Só na Internet conseguimos essa liberdade de falar sobre qualquer assunto, qualquer tabú e sem censura. O Youtube é uma escolha natural porque é a única plataforma que valoriza os criadores de conteúdo, dividindo parte da receita de publicidade com quem cria e traz seu público para usar a ferramenta. Muito justo, e completamente diferente do Facebook, por exemplo”, defende.
Com isso, o grupo conseguiu a adesão não só do público como de diversas personalidades e já contou em algumas produções recentes até com drags do reality show americano do renomado Ru Paul (“Drag Race”) e ainda o queridinho Harry Louis (nome artístico do brasileiro Edgar Xavier), ex-ator porno gay, modelo, DJ e empresário, reconhecido internacionalmente por ter namorado o estilista americano Marc Jacobs. “Minha vontade de criar um canal gay era me ver representado, porque eu nunca me senti gay como ‘aquele gay que eu via na mídia’. Isso é bastante problemático principalmente quando você está formando sua identidade e tentando se conhecer e se assumir. Cada pessoa que nos manda mensagem ou para na rua dizendo que consegue se entender melhor através do canal, se aceita mais, ou passa a aceitar algum gay na família, me mostra que eu não era o único a não me sentir representado. Fico muito feliz”, orgulha-se ele por ter criado um espaço que representa a diversidade em toda a sua conjuntura.
* Parte de Matéria produzida pela jornalista Ivelise Buarque para a Revista Pronews, edição de Fevereiro/ 2016, número 190
